“Que notícias me dão dos amigos?” Era o que cantava Milton Nascimento, lá nos distantes anos 70, em seu Clube de Esquina. É a pergunta que repito aqui, desafinadamente, em dias de ciclones a invadir rotinas aí no Vale do Taquari e a inundar as margens do Jacuí, aqui onde moro, em Eldorado do Sul, encharcando pátios em residências de pescadores, ou de aposentados que escolheram a paz de um sítio para viver. Eu, estou longe, em uma coxilha na rota que leva a Uruguaiana, mas sofro igualmente ao ficar sem resposta para tantas dúvidas e inseguranças. Será o prenúncio de um novo mundo?
“Num domingo qualquer, qualquer hora, ventania em qualquer direção”, e assim centenas de famílias buscam por seus familiares sumidos, ou sepultam aqueles engolidos pela enxurrada, Ouço com admiração, as vozes cheias de fé, de esperança, que engolem o choro e partem para a reconstrução. A tevê nos informa, a vida nos assombra e seguimos acreditando que as coisas podem melhorar em busca do que se passa com amigos e familiares. Assim como os mineiros do Clube de Esquina – turma que se reunia para cantar – lá em Belo Horizonte, longe do mar e das cheias, percebo que estamos com um discurso mais afinado, distante do Clube do Ódio que recheou nossos dias até bem pouco tempo.
“Sei que nada será como antes, amanhã ou depois de amanhã.” Aqui em casa, fizemos nossa parte, com doações e fé. Mas as coisas irão muito além da simples reconstrução. As famílias deverão repensar se é seguro continuar onde estão. Mas para onde ir? Qual a rota das tragédias? Fugir ao topo do vale? E se não forem cheias, ventos movidos por ciclones extra tropicais não varrerão nossos lares? Existe um brete sem respostas, mas cheio de perguntas que se renovam aparentemente, muito além da capacidade de reconstrução.
“Resistindo na boca da noite um gosto de sol”, e será esta sensação que dará o mote para a nova morada, a certeza do dia iluminado e das chuvas que apenas hidratam as sementes, lavam as folhas nas granjas, nas pequenas hortas de fundo de quintal ou, também, das floreiras bonitas de um povo que sabe cultivá-las como poucos. Não é mesmo? Esse gosto de sol, já me dizem os institutos meteorológicos, virá acompanhado de abafamento extremo. Mas também passaremos por isso. Se Deus quiser, com poucas vítimas.
Minha esperança é de que, a cada ano, aprenderemos a respeitar, a ouvir as mensagens da Mãe Natureza que não nos levará mais rio abaixo, feito entulhos mal acondicionados. E poderemos contar, igual ao mineiro Clube de Esquina que, desta vez, nada será como antes!