Um dos programas dominicais preferidos na minha infância era acompanhar o velho Giba até a estação rodoviária pela manhã. Esperávamos a chegada do Expresso Azul, quando o cobrador descarregava os fardos do Correio do Povo. À época era modelo standart, grande, como aqueles jornais americanos e europeus tradicionais.
Junto com o jornal, o rádio era o único meio de comunicação de massa naqueles anos 60/70. A televisão já existia, mas era um eletrodoméstico caro, pouco acessível. Hoje vivemos uma era oposta. Convivemos com o excesso de conteúdos a partir de incontáveis plataformas e ferramentas. Tanta informação provocou exaustão e suscitou o surgimento de um fenômeno que significa “evitação” ou “cansaço de notícias”.
Um contingente cada vez maior de pessoas evita consumir informação jornalística, não importa o meio. A tendência, por óbvio, preocupa donos de veículos de comunicação. Com base no relatório anual do Reuters Institute, da Universidade de Oxford, um total de 314 líderes de redações de 56 países foi ouvido para dizer o que pretendem fazer para reverter esta tendência.
As principais providências envolvem intensificar o jornalismo construtivo que busca não apenas apontar problemas, mas oferecer soluções. Isso seria muito saudável porque o público está cansado – na imprensa e na política – de ver apenas críticas e denúncias, sem a devida correspondência em sugestões.
Em todos os lugares florescem exemplos de
reconstrução, resiliência e de solidariedade
Outro grupo pretende produzir reportagens mais humanas e inspiradoras. É outra ideia louvável. Reportagens positivas induzem as pessoas serem mais otimistas ao ver seus problemas compartilhados. Outras lideranças da comunicação pretendem utilizar formatos e linguagem mais simples e outros buscarão publicar notícias mais positivas.
Um dileto amigo costuma dizer que “a ignorância é uma bênção” e que “os alienados são mais felizes porque não sofrem por antecedência”. A postura é resultado do massacre de tragédias e más notícias onipresentes diariamente. Não se trata, aqui, de ver “o mundo cor-de-rosa”, mas de dosar conteúdos depressivos, negativos e que potencializam o desânimo. Boas notícias ajudariam no ânimo geral.
Em todos os lugares florescem exemplos de reconstrução, resiliência, solidariedade e de casos onde o ser humano é protagonista de histórias com final feliz. Vivemos submersos num mundo de informação, onde a cada final do dia me pergunto: quando desse volume é verídico? Quanto disso tudo é útil para a minha vida?
Perguntas simples, mas importantes para a compreensão de que quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade.