Já foi muito popular o pensamento de um antigo filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778). Muita gente acreditou – e ainda acredita – na ideia que ele defendeu com vigor. A ideia de que o ser humano nasce bom e permanece bom ficando em contato com a natureza, mas se corrompe, na medida em que vai sendo inserido na vida em sociedade. Ou seja, em estado natural, o homem é perfeitamente bom. Ele perde essa condição, ao integrar-se com os outros e nos embates que decorrem dessa vivência – era assim que pensava Rousseau.
Estou lembrando disso ao observar crianças pequenas. Crianças pequenas podem ser bem agressivas. Até maldosas. Não é raro que queiram tudo para si e não se constranjam em maltratar outros, para alcançar esse objetivo. Os casos do chamado bullying, por outro lado, encontram-se bem identificados. Eles autorizam a gente a pensar que Rousseau talvez não tivesse toda a razão.
Da minha parte, estou mais afinada com a ideia de que nascemos com tendências para todas as direções. Temos a possibilidade de enveredar para um lado e outro – para o lado do bem e para o lado do mal – e isto se estende pela vida inteira. Somos capazes de boas ações e de outras nem tanto, durante um mesmo dia. Com relação a nossa natureza, parece que, no máximo, é possível ampliar o espaço do bem e refrear impulsos negativos. Isso, dentro de nós mesmos.
Mas haja tempo e energia para isso…
Viagens que já fiz a países onde domina a filosofia budista e semelhantes tem me feito pensar que o jeito de viver que cultivamos aqui no Ocidente não coopera muito para podermos ampliar o espaço do bem. Entre nós, parece adequado incentivar a competição. “Vamos ver quem ganha” – é uma ideia sempre presente. Ganhar significa deixar outros por baixo. E isso nos parece melhor do que ampliar o espaço da cooperação, em que todos podem se sair bem.
Entre nós, é quase uma obrigação ser mais bela, mais magra, mais feliz do que outras pessoas do círculo. Mais ainda… se não for possível ser, parecer que a gente é, também serve. Aliás, há ocasiões em que parecer é mais indispensável do que ser. Temos de parecer estar levando uma vida incrível, temos que parecer estar nos divertindo o tempo todo. Os outros devem ver isso e bater palmas – mesmo que tudo não passe de um teatro.
O mundo ocidental cria incessantes necessidades de consumo – que, por sua vez, demandam cada vez mais dinheiro. Temos de ganhar mais e mais, para nos equilibrarmos nessa escada. Nossa atenção é atraída por múltiplos estímulos. Não admira que seja difícil rezar, meditar, ler. Não dá pra ficar imóvel e concentrado. As imagens nos solicitam incessantemente. O resultado a gente sabe qual é. Estão aí as farmácias para não deixar mentir…Cuidar da alma, cultivar a serenidade, aumentar o espaço do bem… quem ainda tem disposição para fazer isso?