Desde o início das cheias, sigo rigorosamente as determinações das equipes de Defesa Civil. Acompanho o noticiário, observando a chuva forte que causou prejuízos horríveis aos cidadãos gaúchos. Meu bairro fica às margens da BR 290 e, conforme foi noticiado, a força das águas arrastou um naco da estrada impedindo o tráfego na rota que me levaria a Porto Alegre, além dos veículos que rumam à fronteira com Argentina e Uruguai. Ou seja, para chegar à capital necessitaria dar uma volta de aproximadamente quatro horas nas estradas de chão da Região Carbonífera, aumentando os riscos de atolar em alternativas de pura lama.
E aí, sem ter o que fazer, fui remexer em coisas que estavam precisando colocar em ordem. Antigos trabalhos, livros fora de estante, discos de vinil que classifiquei em ordem por artista e estilo musical. Sim, eu ainda escuto LPs. Gosto de ver a ficha técnica, curtir a capa. Ajuda a entender melhor a mensagem do artista (quando esse quer passar alguma mensagem).
Mas isso é uma espécie de fuga da realidade. Não gosto de fugir, Volta e meia me bate uma tristeza sem dó e uma sensação terrível de impotência. Estou preso em casa, porque é perigoso ir às ruas. Assisto ao noticiário da TV e rádios locais. Ler um livro? quem sabe?
Por exemplo, me deparei com os “Contos reunidos” de Machado de Assis e salvei uma citação bacana desse autor romântico. “Creia em si, mas não duvide sempre dos outros”, escreveu ele. E vamos acreditar, então, que ajudaremos e seremos ajudados a dar a volta por cima. Pequenos municípios deverão ser reconstruídos e, se forem conscientes, em outros locais de menor risco. Juntos. Com bombeiros, médicos e todo tipo de profissional vindos dos mais distantes desse nosso Brasil.
Hoje é quarta-feira e primeiro dia de sol depois de muito tempo. Mas estou, como todos, inseguro e tomado pela ansiedade. Enquanto você lê essa crônica, a chuva terá cedido? As ruas de Arroio do Meio estarão livres da inundação? Poderei voltar a tomar um expresso na Tudesca? Ou outra boa padaria daí? Ah! Com certeza a solidariedade para a reconstrução do que for necessário será maior do que os estragos provocados. Tenho absoluta convicção disso. Quem não está aí pessoalmente, poderá contribuir por meio de um PIX (novapontedeferro@gmail.com). Simples e direto.
Aqui em Eldorado do Sul, tenho reservas de alimentos, água suficiente, mas não é nada agradável a sensação de que existe um bloqueio a impedir meu ir e vir. Que tem pessoas que saíram e não têm mais para onde voltar. Fico literalmente sem chão. A Mãe Natureza anda nos responsabilizando por uma série de problemas e não lhe tiro a razão.
Então, encerro esse papo – sem pé nem cabeça – com uma singela sugestão: vamos dar mais atenção ao meio ambiente, isso que acontece hoje tem uma ponta a ver com a poluição atmosférica, hídrica e dos solos que deslizam montanha abaixo. Isso sem contar a degradação sonora e visual. E não me refiro apenas a música alta ou nudes esdrúxulos que muitos curtem e também polui. Mas causa apenas danos ao bom gosto, dependendo do que se ouve ou vê. É uma questão pessoal, eu respeito.