Acabo de voltar de viagem para longe. Saí daqui em 29 de abril último, no dia em que as águas começaram a subir. Aliás, é a segunda vez que isso acontece, quando saio de casa. Também viajei no dia 4 de setembro do ano passado, data do início da grande enchente anterior. Só pra brincar um pouco… se for época de chuvas, no futuro, vou prevenir a Defesa Civil, antes de botar o pé para fora…
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Mas não pense você que estar longe deixa a gente indiferente. Ao contrário, é preciso fazer força para desviar o pensamento da catástrofe que acontece na nossa terra. Sem isso, há o risco de perdermos tudo e ficar em lugar nenhum. Não poder estar aqui e não conseguir estar lá.
O retorno da viagem estendeu-se além da previsão, por conta da água no aeroporto de Porto Alegre. A partir de Florianópolis, foi preciso voltar pela rodovia. Os transtornos enfrentados, não impediram comover-se na BR 101, ao passar pelos comboios de caminhões com suas faixas grandes dizendo que levavam donativos para o nosso estado.
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Tudo o que acontece ajuda a ampliar o entendimento da vida. Por mais que se trabalhe para, não é possível submeter todas coisas ao nosso controle. Vale para catástrofes naturais e vale para outros acontecimentos. E por um lado, cabe conformar-se com isso. Por outro, todavia, há que furar o desânimo. Dar as mãos e produzir um novo horizonte. E sem perder tempo com xingamentos. Os xingamentos, aliás, servem para aliviar a nossa tensão, mas não colaboram em nada para melhorar o ambiente. São um desperdício de energia.
Mais tarde, quando as coisas começarem a se acomodar vai chegar outra fase importante. Vai chegar a hora de pensar qual participação podemos ter na prevenção de novos desastres. Por exemplo, na nossa relação com a produção de lixo, com o desperdício de recursos naturais, com o comprometimento em favor do bem comum. Há muita contribuição a dar nesses três tópicos e desde já todos ficamos chamados.
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Tenho ouvido ridicularizar o orgulho dos gaúchos, que não baixam a crista nem no meio de tanta desgraça. Dizem até que estamos sendo castigados para deixar de falar em “nossas façanhas”. Que façanhas? – dizem eles.
Este é um jeito de entender a situação e, talvez, uma forma de extravasar o desamparo.
Mas prefiro pensar diferente. Acho que especialmente em meio à catástrofe o que nos socorre é a certeza de que não vamos entregar os pontos, de jeito nenhum. Vamos resistir ao que der e vier. Considero bem mais produtivo elogiar a energia que contorna o desânimo e nos empurra para ajudar. Se é o caso de baixar a crista… então, baixemos a crista depois. Neste momento, viva a teimosia dos gaúchos!
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Pela parte que me toca, queria encorajar a ser presença positiva. Tomara que, em vez de gastar força na crítica, nós consigamos reforçar a esperança dos dias melhores que vamos saber construir.