Dizem que todo o grande problema tem uma solução simples, direta, fácil e… errada.
Esta verdade também vale e muito para o presente caso de enchentes no Rio Grande do Sul. Não serão apenas as façanhas cantadas tradicionalmente – quero dizer, os atos de bravura e coragem – que vão nos tirar do atoleiro. Façanhas são importantes, mas há façanhas de variado calibre.
Por todo o lado brotam ideias geniais… à primeira vista.
Já vi gente dizer, por exemplo, que é só dragar o rio e tudo estará resolvido. Quem diz isso não avalia bem a extensão do caso. Só para ficar com um ponto: dragar o rio significa fazer com que corra mais rapidamente, diminuir o prazo de alerta, e despejar mais ligeiro a torrente sobre outras cabeças. Possivelmente a dragagem será importante, mas quais outras medidas se impõem?
Tenho ouvido também o discurso de que a solução é abrir canais de comunicação da lagoa dos Patos com o oceano Atlântico, para aumentar a vazão para o mar. Olhando assim, parece bom, mas e quando as marés empurrarem água para dentro? E o ponto principal: mexer num sistema de águas que se regula naturalmente através de banhados, canais, estuário, não pode gerar outros efeitos?
Ou seja, parece que o momento atual pede batalhas em duas direções. Um campo de luta é o das manobras emergenciais. Estas se impõem como prioridade. Temos de providenciar água e comida, temos de arranjar moradias provisórias, abrir picadas e juntar esforços como este de recolocar no lugar a ponte de ferro entre Arroio do Meio e Lajeado. Ótimo! Mas as soluções permanentes (ou mais permanentes) ficam à espera.
Aliás, temos de manter olho vivo e não deixar que as soluções provisórias se tornem coisas pra sempre. Aquela história de fazer um puxadinho e acabar se acostumando com ele…
As soluções permanentes têm de ser muito pensadas. Elas não podem sair da cartola de alguém. Já temos suficientes condições de saber que é preciso incluir a oitiva dos atingidos entre as providências. Além disso, chamar a ciência para o debate. Existe conhecimento consolidado no mundo sobre quase todas as coisas e nossos cientistas têm acesso à pesquisa. Vamos mobilizar nossos cientistas – como, aliás, já está acontecendo. Vamos acreditar no saber. Vamos valorizar o conhecimento. Aliás, em todas as áreas em todos os campos, há que aproveitar melhor o resultado do trabalho de tantas pessoas que se dedicam a reunir dados, fazer testes e comparações, analisar possibilidades e, por isso, podem embasar melhor cada passo.
Penso que a maior façanha que o momento demanda é distinguir claramente as providências emergenciais das que são permanentes. Depois, calçar-se de conhecimento científico e tecnológico, para fincar, então, as bases de um novo futuro.