O que falar ou escrever?
Muito pouco, quase nada. Talvez o melhor seja calar. E refletir.
Ficar longe da tragédia que devastou minha terra natal é uma dor imensa. Pior: acompanho tudo pelas rádios da região. Estou há duas semanas em casa. Sequer posso trabalhar em “home office”. O setor de informática do meu empregador está há 10 dias debaixo d’água.
Há algum tempo adotei o hábito de sair para caminhar quando a cabeça começa a dar sinais de entrar em parafuso. Mas a chuva ininterrupta impede andar pelo bairro para pensar em outras coisas, brincar com os cachorros, jogar conversa fora.
Revolta constatar que, desde a primeira enchente, menos de 30 casas “provisórias” foram entregues no Vale do Taquari aconteceu na nossa Arroio do Meio, resultado do mutirão do Sindicato da Construção Civil do RS. Nada de residências dos governos estadual e federal. Por que, então, devo acreditar que agora será diferente?
Inúmeras autoridades desfilarão pelo Estado. Vão conceder entrevistas, fazer “N” promessas, posar para fotos. Será que depois que a mídia for embora e o Estado sair das manchetes nacionais tudo se tornará realidade? Difícil acreditar. Basta ver o passado recente.
Tudo será reconstruído, de olho no céu.
A natureza, assim como nós, pede socorro
Não bastasse a gigantesca reconstrução teremos eleições municipais em outubro. O pleito deveria ser adiado. O momento é de unir forças, e não promover a divisão. Devemos fortalecer as parcerias e canalizar todo dinheiro na recuperação das comunidades.
Eleição, agora, é uma aberração, atrapalha, divide, é gasto desnecessário. Qual a solução? Basta invocar a situação de excepcionalidade que permitiu agilizar a liberação de recursos e de todo tipo de ajuda material. Por que, então, manter a disputa eleitoral que só vai atrasar a recuperação de milhões de vida?
A retomada da vida “normal” talvez jamais seja alcançada. Não consigo imaginar o estado psicológico de quem perdeu tudo mais de uma vez. Pedir paciência é um acinte. Será necessário um grande mutirão de apoio com psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. Só eles têm expertise para orientar, ajudar e impedir que os atingidos adotem comportamentos extremos neste momento de desespero.
Viver um dia de cada vez pode parecer uma expressão surrada, mas denota o que será necessário para implementar medidas de recuperação. A bondade humana, a solidariedade e o espírito cristão da gente do Vale do Taquari vai reerguer nossa região.
Vamos precisar de muita ajuda, inclusive externa, para construir moradias, prédios, estradas e pontes. Tudo aos poucos, gradativamente e de olho no céu. A natureza, assim como nós, pede socorro.