Em oito meses, Arroio do Meio passou pela quarta enchente. No entanto, a do início do mês de maio foi maior em comparação com as duas anteriores e afetou a população como um todo de forma direta ou indireta, não apenas, aqueles que residem em áreas mais próximas dos rios. Além de perder bens materiais e depender de doações assim que a tragédia se instalou, a comunidade também foi afetada em sua saúde mental. A tendência é de que a demanda de busca por atendimento aumente na Casa Branca, local especializado no assunto no município.
“Nas primeiras enchentes notamos que as pessoas estavam acostumadas com isso e a nossa demanda veio depois com pessoas que perderam suas coisas. A catástrofe de maio chegou em pessoas que nunca esperavam ser atingidas, foi muito maior, e ativou o sentimento do modo sobrevivência. As pessoas pegavam tudo que conseguiam de comida, fizeram estoque com o que conseguiram e pensaram muito em si, um misto de sentimentos. Agora percebemos que começou a vir as pessoas em busca do nosso auxílio e o número deve aumentar em até um mês e meio. Temos também aqueles que já foram atendidos anteriormente e estão retornando. São casos de depressão, traumas ao ouvirem o barulho da chuva, medo e ansiedade. Temos pessoas que perderam tudo pela terceira vez”, destaca o coordenador de equipe, o enfermeiro Rogério dos Santos Nunes. De acordo com as estimativas, espera-se um aumento entre 20 e 30% nos serviços da casa em função da tragédia, sem contar a demanda normal.
SITUAÇÕES DIVERSAS
Nunes explica que a enchente do mês passado é um tanto peculiar, pois a consequência vai além dos problemas de saúde mental causados pelo impacto econômico, residencial e de alimentos. “Não podemos esquecer que muitas pessoas estão chegando ao elevado nível de estresse, porque precisam passar pelas passadeiras do Exército no rio Forqueta todos os dias. Isso ocorre, porque muitos têm medo de água, traumas passados e não conseguem. Lembramos que cada um sabe de seu limite. Essa enchente vai muito mais além também, porque quase todo o Rio Grande do Sul foi atingido, então, todos têm amigos e parentes que perderam algo ou sofreram. Há aqueles que se preocupam muito e com grande sofrimento.”
Para o profissional, tratar da saúde mental é o primeiro passo para a reconstrução do município e região. “Recomeçar agora é a palavra, mas para dar certo tem que ter força e estar com a mente bem alinhada e tratada. Problemas psiquiátricos e psicológicos são acumulativos, portanto, qualquer sinal venha procurar a Casa Branca que estamos de portas abertas para atender. Fique atento ao desânimo, sonolência extrema e irritabilidade. Não espere e nos procure. Pode evitar muitos problemas futuros. Têm muitos que ainda não sentiram, pois estão ajudando e limpando suas casas, mas ainda vai vir. Não tenha medo de buscar o auxílio que precisa”.
A equipe da Casa Branca atua de segunda a sexta das 7h até as 17h. O atendimento conta com acolhimento, escuta e encaminhamentos para psicólogo e psiquiatra.