Vivemos momentos assustadores, invadidos pela tristeza que, sorrateiramente, nos sugere desânimo diante de uma trilha destroçada. Mas é preciso seguir adiante, com fé na capacidade da reconstrução apesar das imagens de uma inédita devastação. A retomada dos acessos entre as regiões baixa e alta do Vale do Taquari, em um prazo recorde, me levou de volta às aulas de filosofia (sim, cursei o Clássico), nos anos 1970. E desta lembrança me veio a citação aristotélica que guardo até hoje: “A esperança é o sonho do homem acordado”.
E foi essa capacidade de engolir a dor que, mesmo remoendo o íntimo, não impediu a busca por soluções. Afinal tudo vai passar. É assim a vida. “Quando estiver no inferno continue andando”, disse Winston Churchill – desculpem mais essa citação – mas ela sintetiza a necessidade de coragem para fazer o que tem que ser feito que, não por acaso, é o lema dos que assumiram o novo projeto da histórica Ponte de Ferro a ligar Arroio do Meio a Lajeado.
Estiveram juntos iniciativa privada e poder público, em exemplar sintonia. E a esperança mais uma vez fez sucumbir o desânimo. Se os tempos continuam difíceis, nada desmotiva aqueles que souberam mobilizar tanta gente, tantas cabeças, motivações ou crenças. Havia uma emergência a prevalecer qualquer tipo de ambição ou resmunguice.
E cá estávamos nós, telespectadores, ouvintes de noticiosos em rádios e atentos aos comentários das redes sociais, acompanhando a realização que orgulha toda uma comunidade e renova sim, a esperança de que nem tudo é o esmorecimento da capacidade humana para o bem. Nossas crianças precisam saber que acima de tudo existe essa capacidade de união para enfrentar os que se abraçam ao egocentrismo.
Eu aqui, você ali? Ao contrário, seguimos pelos caminhos abertos na ponte que, partida ao meio, diante da força das águas, simultaneamente, juntou extremos na convicção de que tudo se reconstrói. E mais uma lição ficou gravada em cada viga, em cada braço unido a essa e a tantas causas urgentes pela reconstrução de nosso Estado. É o sonho, de olhos bem abertos a virar bem-aventurança.