No final da década de 80, quando aportei no jornal “Zero Hora” tive um chefe nascido na região da Fronteira. No meio da tarde, quando a redação fervilhava, costumávamos montar uma espécie de mapa/mosaico virtual do Rio Grande do Sul, perguntando onde cada jornalista tinha nascido. Mais de 80% era natural do interior do Estado, o que rendia frases do tipo “o que seria da imprensa sem os colonos que vieram construir a cidade grande”.
Nestas ocasiões, o meu chefe, ironicamente chamado Adilson Porto Alegre, ficava quieto, mas alguém sempre insistia na pergunta do local de nascimento. Depois de várias tentativas, ele suspirava, fazia uma pausa dramática para finalmente responder:
– Sou do Alegrete, mas não gosto de falar disso porque parece covardia, um prevalecimento porque é um município diferenciado!– repetia.
Lembrei-me deste personagem ao deparar com a capa da “Zero Hora” desta quarta-feira, 12 de junho, enquanto estou “datilografando” esta crônica. “Ponte nova em 15 dias”, era a manchete, ladeada por uma foto de meia página da ponte com veículos passando pela obra de arte da estrada velha que liga Arroio do Meio a Lajeado.
Como todo gaúcho, sou um assumido bairrista. Começo, sempre, dizendo que nasci na Bela Vista “no tempo que a gente ficava tapado de poeira ou barro ao caminhar até a cidade”. Depois, falo que o bairro pertence à Pérola do Vale, “cidade limpa, organizada e ordeira, onde vândalos não têm vez”. Por fim, digo ao interlocutor que sou do Alto Taquari, “o mais fértil vale gaúcho”,
Sou um bairrista assumido que enche o peito
ao dizer ao mundo que nasci no Vale do Taquari
O orgulho já era grande, mas agora extrapolou as fronteiras do Rio Grande do Sul. Ao conversar com amigos de Brasília, fiz questão de dizer que “sou da terra onde o pessoal não anda de pires na mão mendigando migalhas. A gente levanta, sacode o barro e faz as coisas acontecerem”. E basta citar o episódio da antiga ponte de ferro para descobrir que todo o Brasil conhece nossa epopeia.
Com mais de seis décadas de vida, o comportamento de meus conterrâneos orgulha, mas não surpreende. Serve de incentivo para turbinar novas ações. Talvez para turbinar nossa indignação na construção de moradias para milhares de irmãos do Vale do Taquari. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, reza a música de Geraldo Vandré. O trecho cai feito luva neste momento de perda, dor, revolta e solidariedade. A região vai reconstruir e fortalecer a união forjada justamente nesses momentos de agruras. A história mostra!