A boneca Barbie completou seus 65 anos no mês de março último e continua agendando comemorações, também no Brasil.
– Grande coisa! – você aí vai dizer.
Pode mesmo parecer tolice falar sobre uma boneca. O assunto deveria interessar apenas a quem brinca de boneca.
Só que não.
Lembrar da Barbie tem cabimento, porque ela está no meio de mudanças em curso no âmbito do comportamento. Como o meio social, a Barbie também vem se transformando, para acertar o passo com os novos tempos. A Barbie passou a reconhecer, por exemplo, o extraordinário alcance da independência e da profissionalização da mulher.
A Barbie não é só um fenômeno de vendas do mercado de brinquedos. Ela é um símbolo feminino – ela pode bem ser levada a sério.
É verdade que contra a Barbie pesam muitas acusações. Diz-se que ela sempre promoveu alienação e consumismo. Diz-se que incute desde cedo nas meninas padrões de beleza impossíveis de alcançar. Diz-se que ela incentiva um comportamento infantil e submisso, etc.
Vamos por partes…
Sim, a Barbie é um fenômeno de vendas. Mais de um bilhão de bonecas já foram comercializadas em 150 países. Nos Estados Unidos, 92 % das meninas tem ao menos uma Barbie em casa. O filme estrelado por ela em 2023 foi o campeão de faturamento do ano, tendo arrecadado em um semestre cerca de um bilhão e meio de dólares.
A Barbie também é um símbolo feminino. Quando foi lançada, em 1959, a Barbie tinha a aparência de uma mulher adulta. Ela imitava as mais belas estrelas de cinema e vinha com uma coleção de trajes glamurosos para ser trocados a toda a hora – ela surgia como o modelo que todas as meninas queriam seguir. Naquele começo, a Barbie pouco se preocupava com uma profissão, com a igualdade de gêneros e com a economia doméstica. Ela só queria ser bonita, ter o guarda-roupas recheado de “looks” e viver cercada de conforto e luxo. Mas, mas, mas… Ao longo do tempo a Barbie foi mudando. Foi ganhando uma aparência mais jovem (– afinal, todos não querem parecer mais jovens?) Passou a incorporar profissões as mais diversas. Já apareceu em mais de 200 atividades: piloto, professora, esportista, astronauta, engenheira, cientista, programadora de jogos, etc. também já ganhou uma versão negra e neste ano foi lançada uma Barbie inspirada em indígena brasileira.
Como se vê, a Barbie evoluiu com o mundo. Poucas coisas, aliás, sinalizam melhor do que a Barbie as mudanças de comportamento das últimas décadas e ela nem de longe dá sinal de que possa haver uma marcha a ré.
No filme do ano passado, a Barbie questionou os padrões de beleza que ela mesmo ajudou a moldar. Ela substituiu a preocupação com a beleza pela busca da satisfação pessoal.
Ou seja, até a Barbie se convenceu de que nada é mais importante do que sentir-se bem sendo quem a gente é, mesmo que isso contrarie os padrões socialmente aprovados.
Aos 65 anos a Barbie não poderia dar melhor sinal de que os tempos mudam. Se muitos não querem reconhecer isso. Azar!
Tudo é invisível para quem não sabe enxergar.