Sempre tive manias, muito antes do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) ser um distúrbio conhecido do grande público. Sob o meu ponto de vista, é claro, sou uma pessoa organizada, do tipo que, se faltar luz ao despertar, consegue tomar banho e se vestir sem susto. Isto por guardar as coisas sempre no mesmo lugar.
Com o passar do tempo, admito que a variedade de manias aumenta, com também se amplia a ansiedade que leva à adoção de pequenos vícios de pretensa organização. A seguir, seguem alguns hábitos assumidamente “de velho”. Aos 64 anos, é inútil negar certos comportamentos. Não tem jeito!
Embalagens: Sacos plásticos de supermercado são os campões de preferência em guardar este tipo de material. “Nunca se sabe… quem guarda, tem!” é a desculpa tradicional.
Jornal “no papel ”: Tenho assinatura dos três jornais diários de Porto Alegre, além de receber exemplares de diversos municípios. O gosto para rabiscar, destacar e recortar notícias que sirvam de pauta para crônicas é usado como argumento.
Guarda-chuvas : Típico vício de idoso, sob a ideia de que “nesta idade não posso pegar gripe… vai que vira pneumonia?”. Guardo um no trabalho, outro no carro e um terceiro em casa. Com este tempo louco, vai saber quando chove, heim?
Anotações: Mantenho blocos – confeccionados em papel usado – em vários lugares: no bidê ao lado da cama, no banheiro, na mochila, na mesa de trabalho, no carro e junto à tevê. Nesta fase da vida, confiar na memória é mau negócio.
Arrumação: É um comportamento que remonta o período em que morei numa “república”. Éramos oito em um apartamento de dois quartos – com dois beliches em cada um. Não saio de caso sem arrumar a cama, estender as toalhas no varal e ajeitar a sala, sofá e a cozinha, onde raramente há louça suja ou cuia com erva-mate. O churrasco só termina quando o último espeto for lavado!
Rádio de pilha: Com as frequentes faltas de energia é um valioso aliado. Na pandemia e nas enchentes, fazendo home office e com as constantes quedas de luz, o velho parceiro preencheu longas jornadas de solidão.
Celular: Apesar de exímio datilógrafo, uso apenas o polegar para digitar ao celular. O aparelho, aliás, é subutilizado, com o uso de poucos recursos “por medo de deletar coisas importantes”. Em caso de dúvida, recorro aos filhos ou a um colega estagiário. Afinal, seguro morreu de velho!
Por fim, identificar um velho – como eu – na rua não é difícil. Quase sempre ele dá sinais como carregar envelopes com exames e laudos médicos, além da dificuldade para estacionar na vaga preferencial do supermercado. Nós também demoramos no caixa “+ 60” e ir à farmácia em busca de lançamentos e promoções. Não é fácil, mas às vezes (raramente), é divertido envelhecer.