Se pudesse ser resumido em uma palavra, o dia a dia da aposentada Alsira Ames, de Capitão, poderia se chamar movimento. Ficar parada não é uma opção para ela, que é bastante ativa, tanto nos grupos que participa, como em casa. Os encontros do grupo da terceira idade, os ensaios do Grupo de Cantoria Italiana, as atividades em grupo no Cras, as galinhadas, o Apostolado da Oração e os eventos nos fins de semana, a exemplo dos promovidos pelo Clube de Mães, têm a presença garantida de dona Alsira.
Quando está em casa, cuida das flores, folhagens, chás e da horta. Prepara o terreno, planta, capina, colhe. “Cada dia um pedacinho”, afirma, contando que no tempo livre também gosta de ler o jornal e visitar as vizinhas. Aos 91 anos de idade mantém o vigor e a disposição. Nem os dias frios do inverno lhe tiram a motivação. Avalia que no verão é melhor, mas o “segredo” do inverno é manter-se em movimento.
Emancipação e política
A casa em que Alsira reside foi construída pelos pais Aloísio Felippe Fröhlich e Amália Träsel, há cerca de 70 anos. À época não chegou a morar nela, já que coincidiu com o seu casamento com Bertoldo Ames. O jovem casal se estabeleceu em outro ponto do município, mais afastado do Centro, onde teve seis filhos: Roselei, Lúcia, Silvério, Jorge, Roque e Rosani.
No início dos anos 1990, com a emancipação de Capitão a vida da família deu uma guinada. Bertoldo foi convidado para ingressar na política, como candidato a vice-prefeito, junto com João Gasparotto. Era a primeira eleição do recente município. Alsira lembra que no começo não simpatizava muito com a ideia, porque temia pela saúde do marido, que sentia muitas dores nas costas. No entanto, com as seguidas visitas que recebiam, todos insistindo para que Bertoldo concorresse, passou a incentivá-lo e ele encarrou o desafio.
Naquela época, recorda, as campanhas políticas eram diferentes. Os comícios, os brindes e os showmícios faziam parte do processo eleitoral e, claro, já havia eleitores que faziam “pedidos” aos candidatos. João e Bertoldo saíram vitoriosos e tiveram muito trabalho para estruturar o município, começando tudo do zero. “Não tinha uma caneta, nem uma pá, nem caminhão, nada. O começo foi difícil”, afirma, observando que o fato de João e Bertoldo não terem a maioria na Câmara, dificultava ainda mais.
Do início do município, Alsira tem muitas lembranças. Afirma que houve muitos avanços nestes 32 anos de emancipação, já que no começo não tinha um metro de asfalto e hoje boa parte da cidade é pavimentada. Avalia que os avanços são muitos, seja na educação, na saúde e na infraestrutura como um todo. Está muito mais desenvolvido, com vários serviços que antes precisavam ser buscados em Arroio do Meio, o município-mãe.
Participativa
Após a eleição, Bertoldo e Alsira passaram a residir no Centro. Já eram aposentados, mas mesmo assim, num primeiro momento, ela teve um pouco de receio pela questão financeira. “Mas o Bertoldo sempre dizia que a gente não ia passar necessidade, e foi o que aconteceu, tudo deu certo. Viemos para a casa que era dos meus pais, onde estou até hoje”.
Alsira, que nunca teve cargo na prefeitura, logo se inseriu na vizinhança e, à medida que o município começava a oferecer atividades em grupo, ela ia participando. É uma das fundadoras do grupo de idosos Vida e Esperança, que em março deste ano celebrou 25 anos de oficialização, tendo Bertoldo como o primeiro vice-presidente. Hoje segue muito participativa no grupo e não perde os encontros. O convívio, as trocas, as brincadeiras, as atividades físicas que realizam, as informações que recebem, qualificam o dia a dia. Deixam a vida mais alegre. Gosta muito de cantar no Grupo de Cantoria Italiana, do qual o filho Silvério e a nora Maria de Lourdes também participam. De origem alemã, não se importa em cantar no dialeto italiano, já que é uma atividade social que lhe faz bem. Falar em alemão é algo que gosta muito, mas tem poucas amigas que são de origem alemã em Capitão.
Ao fazer um retrospecto da sua participação comunitária, lembra que esteve presente em muitos momentos marcantes. Na década de 1990 foi a Brasília, integrando a comitiva do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR). Lá, junto com milhares de mulheres, defendeu a aposentadoria das trabalhadoras de meio rural. Uma experiência que nunca esqueceu.
Vitalidade e força
Alsira, que sempre tem um sorriso no rosto, também passou por grandes desafios. Ficou viúva há 15 anos e perdeu três filhos para o câncer: Rosani, Jorge e Roque. Os homens faleceram recentemente, em um intervalo de quatro meses. Dimensiona que é uma dor que nunca vai passar.
Resiliente aos momentos de dificuldade impostos pela vida, segue com sua rotina social e da casa. Os seis filhos lhe deram 16 netos, nove bisnetos e um tataraneto. A presença da família no seu dia a dia é constante. Juntar toda a turma não é tão comum, já que alguns netos moram mais distante.
Alsira lembra que na época da pandemia via a família e os amigos com menos frequência, o que não foi muito positivo. Afirma que nunca teve medo da covid, mas ficar sem ver as pessoas era o mais difícil. Fez as doses da vacina e ficou feliz quando pôde retomar a vida normal.
Adepta dos chás, sempre tem uma indicação para os netos ou bisnetos, independente da queixa. Questionada sobre qual o segredo para a longevidade, Alsira resume em três aspectos: não abusar das comidas, não passar frio e se manter em atividade. Na sua sabedoria de vida, adotou o que é recomendado pela maioria dos profissionais de saúde. Sua saúde e vitalidade, provam que selecionar o que se come e manter os músculos em movimento e a mente ativa, contribuem para a melhor qualidade de vida, independentemente da idade.
Foto: Arquivo Pessoal