“A geração ansiosa” é o título do livro mais explosivo do ano de 2024. A obra foi lançada no mês de março nos Estados Unidos e em julho já chegava ao Brasil, devidamente traduzida, na edição da Companhia das Letras. Seu autor é o psicólogo Jonathan Haidt, professor na Universidade de Nova Iorque.
O livro focaliza a geração de crianças e jovens capturada pelo mundo virtual. É a chamada geração hiperconectada. Ela, que pode usufruir de avanços e de comodidades inimaginados no tempo dos seus avós e que, pela lógica, deveria estar vivendo uma vida mais plena e mais feliz, está, ao contrário, sendo vítima de uma verdadeira epidemia de transtornos mentais.
Segundo o professor Haidt, o panorama começou a ser desenhado há tempo.
A partir dos anos 1980 se consolidou uma nova forma de viver a infância. Nesse quadro estão presentes dois fatores principais: a superproteção na vida cotidiana e a falta de proteção em relação ao mundo digital. O resultado foi desastroso – segundo todas as evidências levantadas.
Nas últimas décadas, o processo de urbanização fez diminuir os espaços disponíveis ao ar livre e as crianças foram ficando mais e mais confinadas a ambientes internos. Sob a alegação de afastá-las dos perigos, reduziu-se o contato com a natureza. Subir em árvores, explorar terrenos baldios, criar brincadeiras na rua se tornaram atividades quase proibidas. O campo de movimento foi ficando mais restrito e sem graça. Acabou que, por exemplo, para andar de triciclo, as crianças precisam de equipamento de segurança. Lembro de acompanhar uma menina que queria aprender a andar de patins. Para que tivesse autorização, ela precisava usar tantos itens de segurança que não me admirei quando desistiu do projeto.
A excessiva preocupação com a segurança das crianças previne tombos e arranhões, é fato. A face negativa, é que não favorece o exercício da iniciativa nem da independência pessoal. Também não favorece o aprendizado do relacionamento com os outros. O jovem superprotegido não aprende a levantar, sacudir a poeira e partir pra outra. Também não aprende todo o esforço que é preciso para construir boas relações.
Ao lado da superproteção vem outro complicador. É que há uma falta de proteção e vigilância em relação ao mundo digital. O celular abre acessos ilimitados. Tudo fica sob o controle do usuário, que posta, desliga, bloqueia a seu bel-prazer. Criar uma realidade de faz de conta está ao alcance da mão. Tudo é muito mais simples do que na vida real, onde as relações são complexas e imprevisíveis. Não admira que pareça mais confortável se refugiar ali. Surpreendente é os pais se despreocuparem desse aspecto, tendo todo o medo que têm das machucaduras no corpo.
A junção das duas variáveis – a superproteção na vida cotidiana mais a franquia ilimitada ao mundo virtual – tem efeito ruim: dificuldade de criar autonomia, insegurança para resolver problemas, falhas de concentração, isolamento social, ansiedade, depressão, etc.
Será que alguém ainda acredita que somar desconexão do mundo real com hiperconexão ao mundo virtual tem chance de produzir coisa boa?