Um dos males do mundo é a terceirização da culpa. Notaram que sempre que é alguém é pego em flagrante perpetrando algum ilícito ou cometendo um erro, imediatamente cita outra pessoa como culpada?
Numa época de ostentação permanente, não apenas através das redes sociais, mas por comportamentos arrogantes, egoístas ou desprezíveis, o uso da figura alheia para justificar falhas é onipresente.
É cada vez mais raro ouvir-se confissões do tipo “você tinha razão… pisei na bola e quebrei a cara”; Admitir qualquer tipo de culpa parece um ato tão vergonhoso quanto incomum. Pedir desculpas assim, de forma direta, sem rodeios, é confissão de fraqueza, algo imperdoável, indigno do ser humano. Quando em verdade significa exatamente o contrário.
O falta de humanismo campeia solta mundo afora.
Vencer a qualquer custo tornou-se missão de vida para muitos, indiferentes à necessidade de convivência social que forja parcerias, consolida amizades, gera confiança e transforma problemas em soluções através do pensamento coletivo.
Ser humano é ser verdadeiro, solidário e comprometido
em tornar-se um bálsamo para quem mais necessita
Fazer o bem, através da ajuda, é sinônimo de pieguice, coisa brega, babaca, fora de moda e ingênua, de quem parece incapaz de notar a necessidade de desconfiar sempre, de tudo. Desanima constatar a pouca importância que a solidariedade ocupa na sociedade, exceção às tragédias, como as recentes enchentes.
Decorrido certo período de tempo e cessadas as manchetes sensacionalistas, no entanto, voltamos ao nosso casulo, à ausência de comprometimento com aqueles, que mais precisam. Que precisam de atenção, ombro para chorar, ajuda material, apoio moral e psicológico. Precisam, no final das contas, de amparo.
Às vezes é difícil conviver socialmente, tamanha a falta da empatia. A palavra tornou-se moda que, como sempre acontece, pouco interfere no cotidiano de milhões de pessoas, ficando somente no discurso fácil.
Colocar-se no lugar do outro não é apenas imaginar-se em situação semelhante, e de como reagiríamos diante destes desafios que a vida nos reserva. Estar, de verdade, no lugar de alguém, é tentar – com todo esforço – pressupor da dor que toma conta do semelhante que não tem o fortúnio de contar com uma mão estendida. Ou de uma palavra de ânimo, incentivo ou carinho verdadeiro.
Ser humano é ser verdadeiro, solidário, paciente, tolerante e comprometido em tornar-se um bálsamo para quem mais precisa. Hoje, no entanto, parece que o mundo encarregou-se de ser tudo isso, mas ao contrário.