No ano de 1750 foi assinado o Tratado de Madri entre e Portugal e Espanha com a troca da Colônia de Sacramento pelas reduções missioneiras. Com a ordem de expulsão dos jesuítas espanhóis travou-se uma guerra que resultou no massacre indígena e destruição de boa parte das reduções, sendo que muitas deram origem a prósperas cidades do Rio Grande do Sul.
Com a independência em 1822 e a pressão contra o escravismo, o novo Império sentiu a necessidade de povoar a região Sul, com ocupação do território.
A imigração alemã no Rio Grande Sul foi incentivada para proteger o território na fronteira com os espanhóis. Influenciado por sua esposa D. Leopoldina, que era Austríaca, Dom Pedro I decidiu recrutar soldados da Alemanha para compor o exército e colonizar a terra.
A miséria e as dificuldades, numa Europa emergente de repetidas guerras, seduzia os emigrantes com promessas de passagem de ida, um lote de terra com 78 hectares para viver e plantar, salário de 160 réis por um ano, gado, cavalos, porcos e galinhas.
Estima-se que mais de trinta mil pessoas emigraram da Alemanha para o Brasil entre 1860 e 1914.
Em 1852 embarcou no navio Louise Emilie, com destino ao Brasil, a família de Johann Heinrich Karl Wächter.
O naufrágio na costa da Inglaterra, narrado por Sabrina Schneider, em Magazine, deixou 38 mortos e apenas 34 sobreviventes, dos quais seis retornaram à Alemanha. Abrigados pela população de Dungeness, próximo à cidade de Lydd, foram auxiliados com materiais e dinheiro para prosseguirem a viagem. No naufrágio faleceu a esposa e três filhas de Johann Wächter, sobrevivendo ele e o filho Augusto, do qual não se teve mais notícia.
Em carta aos parentes na Alemanha, de posse do bisneto Luis Wächter, traduzida pelo Pastor Armindo Muller, Johann relata sua dor e os primeiro passos na nova vida, chegando num pequeno barco a vapor na cidade de Rio Pardo.
Coube-lhe, por sorteio, o lote 50 da Picada Nova, sendo que já existiam 122 colônias ocupadas na Picada velha e 72 famílias na Linha Travessa. Logo construíram escolas e igrejas, mantendo a cultura e a língua de origem.
Vivendo sozinho, Johann logo tratou de construir sua casa e limpar a área para plantação, destacando-se o tabaco, que era vendido em Rio Pardo para Mathias Schmidt, comerciante antes contratado como mercenário para defender as fronteiras contra os ataques espanhóis. Este casou-se com Florinda Severo Trindade e teve três filhas que ofereceu a Johann. A escolhida não aceitou, mas a segunda ofereceu-se para casar com Johann e tiveram 14 filhos, gerando grande descendência na região.
Com dedicação e trabalho os descendentes destacaram-se no comércio, indústria e agricultura, logo sendo lembrada a antiga Loja Waechter do centro de Santa Cruz do Sul.
A latinização da língua modificou a grafia “Wächter” para “Waechter”, sendo que minha sogra Paula, filha de Olíbio Wächter, mantinha a grafia original.
Foi preciso muita coragem para atravessar o oceano, fugindo das misérias das guerras europeias, atrás de uma sonho de possuir um pedaço de terras para criar sua família. Seu exemplo prosperou, o qual continuamos transmitindo a nossos filhos, descendentes daquele herói germânico, nesses duzentos anos de imigração alemã no Brasil.
Por Moacir Leopoldo Haeser