Na semana passada, um amigo de longa data confidenciou que precisava dar um jeito em seu casamento. Não, ele não queria separação. Tudo o que pretendia era “apimentar” a relação de 21 anos. Mas bastou eu sugerir – falando sério – alternativas sexys para voltar a encaramujar-se. Teme a reação da esposa que, por mais de uma vez, reclamou da frieza do marido. Tentei argumentar que se isso está acontecendo é porque ela espera pela iniciativa dele. Qualquer movimento nestas horas é sempre positivo. Na cozinha do amor, temperos picantes sempre são bem vindos.
Ele prometeu que iria buscar uma solução. Lembra que já desistiu da ideia romântica de ir a Gramado, por exemplo. Andaram pela Serra e não passaram do jantar à luz de velas. “Acabamos comendo muito e, ao chegar ao hotel, apenas dormimos”. No dia seguinte, o clima estava desfeito, ambos de ressaca e indispostos, trocaram a paixão por uma caminhada e compras.
O pior é que ele anda tenso. Quer resolver a questão logo, desencantar. A mulher já desconfia que arrumou uma amante “E não é nada disso”. A intimidade quando vira o fio, torna tudo mais comum, menos sensitivo e o prazer a dois precisa de algum estímulo. Ele disse que tentou com palavras, enviou uma mensagem sacana via Whats App que funcionou, mas quando chegaram em casa, esqueceram de dar continuidade a proposta.
Encabulados, comentaram o trabalho, os filhos e as contas que precisavam ser pagas. Acabei criticando uma certa imaturidade na relação que mantinham. Após longos anos de vida a dois, dividindo angústias e contas a pagar, não conseguiam buscar, também juntos, uma alternativa à monotonia?
A intimidade do cotidiano pode roubar aquelas faíscas do novo, mas permite um melhor entendimento da reação de cada um. Saber o que se curte mais – desde o tempero do feijão com arroz, àquele que dá sabor à sexualidade. O entendimento de seus próprios limites e capacidade de superação é uma das vantagens dos relacionamentos duradouros. De qualquer maneira, sugeri lojas que vendem artigos eróticos – desde roupas até brinquedos para gente grande – será uma barreira enorme a vencer.
Eu mesmo não sei se teria coragem de entrar em um desses estabelecimentos. Mas em caso de emergência, vale tudo que possa unir e reavivar o prazer. Desde que sem forçar a barra. Se a vida de casados é pragmática demais, com tudo certo, tudo bem encaixadinho na administração do lar, é possível que outras partes desse quebra-cabeças não se encaixem mais com tanta facilidade.
Ousar é a melhor saída, demonstra interesse e afeto, ao contrário do adeus, sempre nefasto e doloroso. Espero que meu amigo consiga vencer essa barreira e, na fase mais estável de sua relação, reacenda aquela chama que insiste em queimar rápido demais. Antes que vire cinzas, sempre valerá a pena.
Por Ari Teixeira