Na semana passada falei aqui da geração hiperconectada. Fiz comentários a partir do livro de Jonathan Haidt “A geração ansiosa”, que foi lançado no mês de julho no Brasil. Os retornos que recebi mostram que o tema é importante. Muita gente está preocupada com o aumento dos distúrbios mentais que se associam com o novo estilo de viver a infância e a juventude.
A geração hiperconectada é essa que vem crescendo quase dentro do celular. Passa a maior parte do dia dispersa entre a realidade e o mundo virtual, pois não consegue passar nem algumas horas fora das redes sociais. Então, fica com um olho aqui e outro lá, ou seja, não está nunca inteiramente presente. Em geral, são crianças e jovens que têm pouca experiência de vida ao ar livre e de inventar brincadeiras com amigos. Nas últimas décadas cresceu a proteção dos pais e o resultado é que faltam oportunidades de aprender a vivenciar os ciclos da natureza, faltam oportunidades de subir em árvores, de explorar terrenos baldios, de passar horas de papo com os amigos – coisas que no passado foram sinônimo dos verdes anos. A superproteção tem o efeito de limitar o aprendizado que vem dos tombos e das esfoladuras. A superproteção abafa o desenvolvimento do jovem no caminho de se tornar um indivíduo independente. A superproteção na verdade desprotege.
Esta geração vem crescendo sem se treinar para enfrentar os desafios da vida real: as frustrações, as dificuldades de interagir e de viver em sociedade. Mas, o que torna tudo mais complicado, é que tem acesso quase ilimitado ao mundo virtual. Neste quesito falta a proteção dos pais.
O livro “A geração ansiosa” dispara um alarme porque não se limita a descrever a situação. Mostra números, tabelas e dados do crescente adoecimento de crianças e jovens e do número crescente de suicídios. Ao lado disso também oferece sugestões para sair do brete em que estamos metidos. Resumidamente são quatro as medidas indicadas:
- Retardar o acesso dos jovens aos smartfones. Até o final do Ensino Fundamental, os pais não devem oferecer aos filhos nada além de celulares básicos, sem acesso à internet;
- Retardar até o Ensino Médio o acesso às redes sociais;
- Barrar na escola o uso do celular com aplicativos que permitem mandar e receber mensagens. É preciso zelar para que a atenção dos alunos fique concentrada nos temas que estão sendo desenvolvidos na sala de aula;
- Multiplicar as oportunidades práticas de desenvolver independência e responsabilidade pessoal. Atividades que levem a compreender como a natureza é fascinante, como o mundo real abre para aventuras e oportunidades infindáveis. Oferecer chances de crescer em autonomia para lidar com tarefas da vida cotidiana e chances de treinar habilidades para o convívio com as outras pessoas.
Fácil de seguir as lições do livro de Jonathan Haidt
Claro que não. A começar pelo fato de que frequentemente os adultos não oferecem os melhores exemplos.