Símbolo do recomeço no Rio Grande do Sul após a catástrofe da enchente de maio, a Casa do Peixe retorna com as atividades na sexta-feira, dia 20 de setembro, data em que é celebrado o Dia do Gaúcho e Revolução Farroupilha. O atendimento será das 11h até 12h15min, das 12h15min até 13h30min e, a partir desse horário, aberto para quem não fez reservas. Na parte da noite, os jantares serão servidos às 19h. Para o almoço, o estabelecimento abrirá de terça a sábado e à noite de segunda a sábado com o cardápio já tradicional e conhecido pela comunidade de Arroio do Meio e região.
O 20 de setembro não foi escolhido por acaso para a volta. “A bandeira do Rio Grande que coloquei aqui em uma das janelas teve grande repercussão e ficou marcada como uma resistência a tudo que passamos, aquilo tudo que o estado viveu, mas que não iríamos desistir de lutar pela reconstrução. Tirei uma foto e postei nas redes sociais com a legenda ‘o Rio Grande renasce’. Enviei para um grupo de amigos e um deles mandou a fotografia ao Governador Eduardo Leite. Então, gerou toda a repercussão e vou deixar a bandeira lá”, cita o proprietário do estabelecimento, Darcísio Schneider, popularmente, conhecido como ‘Picolé’.
Ainda no mês de maio, ele começou os reparos necessários para recomeçar com investimento próprio. Foram feitos trabalhos de pintura, colocação de piso, forro e demais serviços para toda a remodelação interna. Para a área externa do prédio, que foi construído em 1907, há um projeto de captação de recursos por meio da Lei Rouanet. O projeto já está pronto e foi executado de forma gratuita por um arquiteta de Garibaldi que também auxiliou demais locais históricos atingidos pelas enchentes em outros municípios. Quando estiver concluída a restauração, o objetivo é realizar um evento solene. No entanto, não há prazo definido. “As pessoas estão empolgadas com a volta da Casa do Peixe e me perguntam na rua. Já temos bastante reserva. Vai ser muito bonito o recomeço. Passamos muitos problemas, pois é a terceira vez em oito meses que preciso reformar”.
“Parecia uma guerra nuclear”
Além de maio, o local foi atingido pelas enchentes de setembro e novembro. A última tragédia ocorrida há quatro meses deu perda de objetos da cozinha, mas freezers e mesas foram retirados. Dessa vez, a residência de Schneider, no segundo pavimento, também foi atingida. A água alcançou o teto. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde a sequência de enchentes.
“Nós fomos os últimos a sair daqui, na quarta-feira, dia 1º de maio, pela manhã. O prefeito me ligou e disse para sair, pois seria muito grande a enchente. Mudou muita coisa desde que tudo aconteceu, a ficha ainda não caiu. Eu tinha um pomar muito bonito aqui do lado, com árvores de 50 anos, plantadas pelo meu sogro. Elas foram embora com as águas e não voltam mais, isso me deixa triste, pois era uma lembrança e legado dele. A certeza que tenho é de que não será mais a mesma coisa. Não acredito que veremos isso tão cedo de novo. Parece que não foi enchente, mas algo pior e desconhecido. Depois que baixou a água e vim pra cá foi assustador tudo que vi, inacreditável. As pessoas vagavam, andavam sem rumo, não era normal. Era como se tivesse passado por aqui uma guerra nuclear.”
Foto: Carolina Schmidt