Uma frase ouvida durante o debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo capital, no dia 15 último, é a mesma que os meninos costumam ouvir desde bem cedo: – Seja homem! Provando que a frase é poderosa, no debate levado ao ar pela TV Cultura, o candidato a quem a frase foi endereçada respondeu com uma cadeirada no opositor e só não continuou a bater, porque foi contido por seguranças.
A esta cena se pode acrescentar a recente demissão do ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, em função de acusações de assédio sexual. Aliás, segundo o IBGE, anualmente cerca de 50% das mulheres são vítimas de assédio masculino. Será que o incentivo que meninos ouvem – Seja homem! – quer dizer isso mesmo: trate os adversários na porrada e avance sobre as mulheres, independentemente do consentimento delas?
O caso dos políticos traz à tona a forma mais antiquada do ser homem, essa que tinha importância para os habitantes das cavernas. Naquele tempo, a violência fazia todo o sentido, pois atacar era a forma de garantir comida e sobrevivência. O atual machismo tem suas raízes lá. Só que já passou da hora de ser modificado. Será assim tão difícil aceitar que o mundo mudou? O recente comportamento dos políticos diante dos holofotes mostra tristemente que a violência masculina é quase rotineira. Muitos homens acreditam que, avançar sem licença sobre o corpo de uma mulher, é um sinal positivo de masculinidade. Assim como continuam acreditando que lhes cabe partir para a briga, não levar desaforo pra casa. Em certos ambientes, quase se espera que um homem não perca oportunidade de mostrar os punhos, de fazer valer a força.
Sinal visível do velho machismo é a ideia de que a mulher se situa entre as propriedades do homem. O corpo e a vontade dela não seriam dela, mas estariam sujeitas à vontade masculina. Isto aparece no significado conferido ao modo de vestir feminino. Em vez de entender que a escolha da roupa para usar é um direito pessoal, a tendência é achar que se uma mulher veste roupa decotada, por exemplo, está formulando um convite. Nem seria preciso ao homem dar-se ao trabalho de checar se é convite mesmo. O vestido justo seria como licença-prévia, uma espécie de alvará. Ou, até uma convocação para se chegar. Depois, se a vítima vier a reclamar, a peça de roupa ganha a culpa.
Um sentido moderno para o “seja homem” é acreditar em conviver estabelecendo acordos. Só que, claro, para haver acordo, cada parte tem de ter direito a pensar, a manifestar-se e a ter sua vontade levada a sério. Cada parte deve ser respeitada em sua autonomia e dignidade. Bem diferente de acreditar em gracinhas que se dizem por aí. Como esta de chegar à conclusão de que Google só pode ser mulher: nem espera terminar a pergunta e já fica dando resposta furada…