As comemorações do dia da criança fazem lembrar das brincadeiras antigas. Misturo aqui recordações minhas com relatos que ouvi, mais as coisas que observo ao redor hoje em dia. Assim, me encorajo a dizer que houve uma viravolta completa. Para começar, antigamente as crianças brincavam sem a supervisão dos adultos.
Na infância antiga, os espaços externos estavam disponíveis por todo lado e eram os locais favoritos. As crianças simplesmente desapareciam. Iam pelos arroios, pelos terrenos baldios, pelos potreiros, para as ruas de pouco movimento. Em geral saíam sem um plano definido. O brinquedo seria inventado na hora. Alguém teria a ideia de jogar pedras, de explorar um valão ou de apostar corrida de obstáculos. Tudo dependia do que a cena trouxesse. Se uma árvore tivesse caído, por exemplo, enfiar-se pela ramagem era a escolha. Diante de um buraco aberto, seria óbvio sapatear a lama do fundo. E assim por diante.
Brincava-se pouco nos espaços fechados. Nada era melhor que a liberdade de fora. Dentro de casa, os grandes reclamariam do barulho ou considerariam maluquice esconder-se nos melhores lugares, como em armários de roupas e em caixas de mantimentos.
O quesito segurança não era quase lembrado. Sim, os mais velhos diziam que o fogo era quente, que o poço era fundo. Mas cabia aos pequenos acreditar no que ouviam e tomar as devidas cautelas.
Vejam a diferença! As crianças de hoje são vigiadas por câmeras e protegidas de todas as formas. O cadeirão em que comem à mesa tem cinto de segurança. Mal sabem que uma vez se acomodariam em uma lata de biscoitos precariamente assentada sobre uma cadeira qualquer. Hoje não precisam prestar atenção à quina dos móveis nem às portas ou às gavetas, pois há amortecedores de choque por todos os lados. Mesmo se quisessem meter o dedo em tomadas de luz, isto seria impossível. Elas estão lacradas.
Sim, você conhece muitos outros exemplos.
O que talvez ainda não saiba é que forte suspeita baixou sobre o modo como se trata a segurança infantil. Isto mesmo!
Há experiências em curso nos playgrounds da Inglaterra. Em vez da total segurança, riscos são deixados ali de propósito. As crianças devem aprender a prestar atenção – dizem os especialistas. Elas devem aprender a tomar conta de si. Demais proteção desprotege. E ainda outra coisa – eles acrescentam – lidar com os riscos ajuda a encarar frustações e estimula a criatividade.
Só não sei o que os especialistas ingleses diriam se nos tivessem visto brincar anos atrás.