Se é possível segundo turno em eleições para presidente, governador e prefeitos, nos municípios com mais de 200 mil eleitores porque, muitas vezes, na vida cotidiana, não conquistamos essa oportunidade? Ou se a obtemos, ao contrário de agir corretamente, não valorizamos o voto de confiança dos que nos acompanham? Aquela
segunda oportunidade de recomeçar e corrigir enganos. E se você não perdoa quem cometeu um erro, pode ser a vez de, quem sabe, escolher melhor. Pés no chão e cabeça focada no que lhe realmente convém.
E quero adiantar que não sou psicólogo, nem um infalível pensador de causas justas. Permitir uma segunda chance não é fácil, exige uma avaliação de contexto. Sabemos que temos maneiras bem próprias de conduzir o que nos é importante. Quando eu era mais jovem, perdi uma parceria justamente por esse motivo. Sabe aquela relação que fica dividida entre o namoro e a amizade? Um dia ela ficou com outro numa festa e me contaram. Discutimos de forma adulta, mas eu guardei as mágoas no armário da estima e acabei com uma bonita amizade.
Tão complicado quanto essas relações afetivas são as de trabalho. Mesmo quando você implica com um colega que abusa de sua tolerância e, de forma tranquila, busca uma solução via diálogo, se não forem corrigidos os erros, o recomeço será aos tropeços. Quando fiz psicanálise percebi que a maioria das pessoas tenta fazer o melhor que pode. Cada um a seu jeito, com seus defeitos e preconceitos. Então, antes de mais nada, aprendi a analisar cada situação com toques de compaixão com gente complicada.
Com esse método percebi que, como tudo na vida, o que nos move é o sentimento amoroso que emana tolerância, respeito e também, distanciamento quando o conflito permanece apesar de todos os esforços de pacificação. Mas isso se chama amadurecimento. Permanecer ou partir sem culpas. Sem mágoa, aliviado, apesar de alguma eventual melancolia.
Meu segundo turno, ultimamente, tem sido radical. Não significa crueldade mas uma compreensão de que meu voto, no dia a dia, é para quem não me impõe nada, nem cobra rancor, ódio ou salada de chuchu. Em minha já longa e tortuosa estrada, não sou o dono de todas as convicções, respeito opiniões contrárias, mas meu voto é sempre para a tolerância, café expresso com torta diet e um bate-papo entre amigos, sem inveja do riso nas mesas alheias. E viva a urna definitiva e inviolável em qualquer turno!