Meu amigo Ruben (nome fictício que ele detestou), advogado aposentado e bon vivant, disse que está irritado com seus parceiros de confraria. As eleições estão indo para o segundo turno em 52 municípios do país e, segundo ele, não conseguiu irritar ninguém com suas implicâncias políticas. Ele jura que o bate-boca das campanhas de 2020 deixou marcas profundas em muitos grupos. “Mas o que eu queria ver é o circo incendiar com propostas efetivas até a hora da urna, porque depois tudo vira uma mesmice”, argumenta.
O Ruben tem razão. O agito dos debates, os bandeiraços influenciam o cidadão comum. Mas na hora da administração de um bom executivo municipal ou de uma câmara de vereadores, o que vai contar são as leis propostas, apreciadas ou melhoradas, sempre em nome de uma cidadania pacífica, com projetos alinhados às verdadeiras necessidades do povo.
Eu moro em Porto Alegre onde o índice de abstenção chegou a 30% e o meu amigo da área jurídica diz que a responsabilidade desse percentual se origina em debates vazios ou que viraram bate-boca ou momentos de violência que ocorreram, por exemplo, em cidades como Bagé, aqui no Sul, ou cadeirada, em São Paulo, onde os ânimos estiveram bem acirrados.
Um relatório produzido pela Agência Brasil, revelou um dado assustador e eu fiz questão de repassar ao Ruben. Neste ano, antes mesmo do segundo turno, os casos de violência superaram em 130% os das eleições de 2020. Faltaram propostas, sobraram sopapos. O ideal seriam candidatos mais bem preparados mas, como reconhece o próprio Ruben, é muito difícil trabalhar uma campanha fundamentada basicamente em projetos “concretos”, como gostam de alardear candidatos, muitas vezes de mãos vazias.
De qualquer maneira, como cidadão, acompanho todos os movimentos. Alguns eu abraço, outros evito por não combinarem com meus princípios. Cazuza cantou, “ideologia, eu quero uma para viver”, mas que seja com menos discurso de ódio e mais portas que se abram à cultura do bem viver. Como cidadãos somos todos iguais, com direito a buscar o lado que consideramos mais adequado às nossas necessidades, desde que essas não rompam com processos democráticos.
Encerrado esse meu discurso prometo, para a próxima semana, retomar as crônicas de cotidiano que, no fundo, sempre tem muita política envolvida. O filósofo grego Aristóteles afirmava que as pessoas necessitam de coisas e, por serem carentes e imperfeitas, para conquistá-las buscam a comunidade para alcançá-las. A partir daí deduziu que “o homem é naturalmente político,” e, cá entre nós, não serei eu a contrariar esse outro Ari. Aliás, o que eu defendo é união para, juntos, exigir mais ação e nenhum conchavo.