Na teoria, todos têm solução para tudo, desde que se esteja à distância e não “no olho do furacão”. A vida é muito parecida com o futebol. Diante da tevê, na mesa de bar ou na arquibancada, o torcedor esbraveja diante do ídolo que perdeu um gol feito ou de seu goleiro que falhou causando a derrota. No Vale do Taquari vivemos momentos inéditos, marcados pela dor, perdas e tragédia. Por muitas gerações vamos repetir o que fizeram nossos avós, quando nos contavam as façanhas da histórica enchente de 1941. Aos poucos voltamos à normalidade, embora ainda tenhamos muitos conterrâneos que vivem de favor. Em abrigos e casas de familiares e amigos. Contrariando a lógica, a nossa comunidade enfrentou uma eleição municipal que consumiu energia, dinheiro e amizades, justamente quando mais precisávamos de união, solidariedade e compreensão. Passado o pleito, teremos a posse dos novos dirigentes – prefeito vice-prefeito e vereadores -, escolhidos democraticamente pelo voto dos arroio-meenses.
Muita gente torceu o nariz para o resultado. Reação normal em uma democracia jovem como a nossa, com falhas, defeitos e aberrações. É difícil, à distância como é o meu caso, esperar que vencedores e derrotados se abracem em torno da causa maior, que é o nosso Arroio do Meio. Este seria o mundo ideal, mas no mundo real quase sempre a oposição torce para que tudo dê errado. A enchente adiou a escalada da vocação turística que o Vale do Taquari começou a descobrir, com ênfase maior a partir do lançamento do Cristo Protetor de Encantado. Inúmeros empreendimentos surgiram, ganharam forma, vida e visibilidade, mas a tragédia travou o processo que deve ser retomado em breve. Os novos administradores de Arroio do Meio assumirão num momento especial.
É preciso sensibilidade e inteligência emocional para motivar a comunidade para trabalhar de maneira coesa. Muitos ainda precisam de casa, comida, roupa, material de construção, carinho e um ombro amigo. Ressentidos por mágoas e frustrações, jamais conseguiremos ajudar os irmãos arrasados pelas águas. A partir de janeiro, os arroio-meenses e os gestores públicos – que pediram votos para administrar o município – terão uma oportunidade única de renovar nossa tradição de solidariedade, união e apoio aos mais necessitados.