Minha mãe era descendente dos Jensen, da Dinamarca. Meus avós, tias e minha mãe, com a nossa ajuda, plantavam lúpulo e faziam cerveja, sem álcool, da mesma forma que os dinamarqueses fazem ainda hoje.
Originária de família luterana, converteu-se católica ao casar-se com meu pai, descendente de alemães católicos da Baviera, tornando-se devota de Nossa Senhora, que até acreditava ter visto uma vez.
Sempre nos contava a história do irmão menor, que estava encarregada de cuidar, que desapareceu de suas vistas.
Após muito procurar, avistou na mata, que havia perto da chácara onde moravam, uma pessoa toda de branco. Resolveu abordá-la para ver se havia visto o menino.
Entrou na mata e, quando se aproximou, o vulto branco sumiu! No local estava o menino, sentado no chão, brincando… e com uma enorme cobra ao seu lado. Arrebatou-o, tremendo, e saiu correndo para casa.
Não sei o que era, mas eu passei por algumas situações com nosso filho menor que me fazem pensar…
Estavam fazendo algumas instalações elétricas em nosso apartamento e não concluíram. Quando o eletricista saía, no final do dia de sexta-feira, questionei-o sobre uma tomada que não estava coberta, pois costumávamos colocar em todas um tampão, para evitar acidentes. Ele assegurou-me que não estava energizada e que havia colocado uma extensão de outra tomada, atrás de um móvel, para o televisor.
No dia seguinte, tomando chimarrão na sala, ouvimos um estouro no quarto e saímos correndo, encontrando nosso filho, com os olhos arregalados, sentado sobre a cama, com a tesoura na mão, com a qual havia cortado o cabo do televisor. A tesoura, feita de aço, ficou com um sulco num lado da lâmina e um buraco no outro. Segundo o eletricista o estouro do cabo salvou sua vida.
Noutra ocasião a família preparava-se para sair, quando o vi passar correndo na direção do nosso quarto. Fui rapidamente ao quarto de onde ele viera, a tempo de ver uma chuva de faíscas, saindo da tomada de energia, que uma visita havia destampado para carregar o celular.
Sentado sobre nossa cama, ele gritava que achava-se um idiota e que nunca mais iria fazer nada além de ficar sentado assistindo televisão. Mais calmo, contou-me que havia encontrado um grampinho de cabelo e, vendo os dois furinhos da tomada, concluiu que seria o melhor lugar para guardá-lo.
Colocar um cotonete no ouvido e sair caminhando, batendo na soleira da porta, nem conta… Felizmente tímpano perfurado sara sozinho, como me assegurou o otorrino.
A última, e também assustadora, foi quando chegamos em casa, do passeio, ele levando seu cão Spot pela guia. Enquanto carregávamos as malas, ele correu na frente. Ao não encontrá-lo, subimos pelo elevador de carga e, quando chegamos ao elevador social, que fica em outro corredor, encontramos o cão parado junto à porta, a guia pendente no poço do elevador…
Felizmente o elevador logo retornou e ele saiu ileso.
Contou-nos que deu-se conta de que nos deixara para trás e entrou novamente no elevador, apertando no botão, para mandá-lo para baixo. Como o cão encontrava-se do lado de fora, sua mão foi subindo, segurando a alça da guia, enquanto o elevador descia. Quando já não alcançava mais, tive uma ideia, disse-me ele:
– Abri a mão!
Entre o pescoço do cão e a mão infantil… não quero nem pensar.
Você acredita em anjo da guarda? Minha mãe acreditava…
Eu também.