Na semana passada fiz a primeira visita a Arroio do Meio depois das enchentes. Vídeos, fotos, depoimentos. Nada tem o poder de dar a verdadeira dimensão do sofrimento da nossa gente, resultado de pelo menos três grandes cheias desde setembro de 2023. Para o bem – e para o mal -, a população do Vale do Taquari comprou tratar-se de gente de fibra, dedicada ao trabalho, que respeita as leis e é dotada de incontestável espírito pacífico. Ao invés de bloquear rodovias ou mobilizar ruidosas caravanas a Brasília e Porto Alegre, buscamos soluções inspiradas no esforço coletivo. A reconstrução da ponte de ferro é prova de tudo isso. A entrega de centenas de casas, quase todas por parte de empresários, mostra a solidariedade de empreendedores que sofreram enormes prejuízos.
A cada semana, a promessa de entrega da ponte da ERS-130 se renova por parte do governo do Estado. A data fatal é 25 de dezembro, o que poderá fazer do Natal um momento de comemoração, algo impensável desde maio. Pela primeira vez usei a ponte do Exército no retorno a Porto Alegre. A jornada levou quase duas horas com muitas crateras, poeira e lentidão na travessia do tráfego pesado. Ao chegar a BR-386, deparei com o congestionamento quilométrico a partir da ponte sobre o rio Taquari, alvo de reparos diuturnos.
As enchentes devem servir de reflexão no Vale do Taquari. Talvez não devêssemos ser tão pacientes e exigir soluções menos lentas e mais eficazes ao invés de contar, apenas, com o esforço da nossa gente que reconstruiu a ponte de ferro. Outra análise envolve a necessidade urgente de unir políticos de todos os partidos e municípios para eleger representantes genuinamente identificados com a região. Parece um devaneio com ares de ingenuidade, mas é preciso pensar sobre a importância de termos deputados – estaduais e federais – “puro sangue do Vale do Taquari”. Divisões, personalismos e busca de projeção individual devem ser deletados do dicionário regional. Do contrário, continuaremos a sobreviver das migalhas enviadas por Porto Alegre e Brasília. Chega de esperar, acreditar em promessas demagógicas e sobreviver com auxílios enviados em conta-gotas. A realidade depois da tragédia é muito diferente das promessas feitas em dezenas de visitas, comitivas de autoridades, entrevistas coletivas, fotos e vídeos que serviram, apenas, de exploração política. Violência jamais, mas precisamos abandonar nossa postura de passividade e fazer valer os empregos e tributos que geramos diariamente no outrora mais fértil vale gaúcho.