“Brain rot” foi eleita como expressão do ano pelo Oxford English Dictionary. Sim, existe isso de escolher a palavra do ano ou a expressão do ano e de anunciá-la para o mundo. Sim, existe um dicionário que atua mais ou menos como o júri de concurso: observa, compara e vota. Este é o caso do Dicionário Oxford, ligado à Universidade do mesmo nome, na Inglaterra. Só que ele faz muito mais do que escolher a palavra do ano. O dicionário existe desde 1857.
Ainda não está terminado e nem nunca ficará. É um dicionário que acompanha a história. Está permanentemente investigando aparecimentos e desaparecimentos na linguagem; mudanças de sentido; palavras que caem nas graças dos falantes ou que saem de moda, etc. Tanta pesquisa permite indicar o quanto as palavras são usadas no espaço do ano e, por fim, proclamar a vencedora. A palavra ou expressão escolhida sempre tem a ver com os acontecimentos da hora, relaciona-se com os temas que estão na boca do povo no período focalizado. Assim, por exemplo, a palavra do ano em 2013 foi “Selfie”, a do ano de 2018 foi “Tóxico”, a de 2021, no auge da pandemia, foi “Vax”, abreviação para vacina. Neste ano a escolhida não é uma palavra. É uma expressão: “brain rot”. Numa tradução livre quer dizer cérebro apodrecido ou deteriorado ou estragado ou prejudicado.
Tem gente que achou engraçada a escolha. Eu acho assustadora. É muito desconfortável saber que, nesta era de tecnologias maravilhosas, estamos favorecendo o aparecimento de “brain rot”. Ou seja, que nós mesmos disponibilizamos os meios para infligir prejuízos ao nosso cérebro. E usamos esses meios quase sem controle. Os prejuízos ao nosso cérebro acusados pela expressão “brain rot” aparecem na deterioração do estado mental ou intelectual, decorrente do consumo excessivo de conteúdo on-line. Conteúdo esse que tem caráter trivial ou banal, que não é desafiador, que pouco ou nada acrescenta. É um jeito inconsequente de gastar o tempo. Mesmo se a escolha do Oxford English Dictionary não chamasse atenção para o fato, é notório o efeito do “brain rot” nos dias que correm. Aparece na dificuldade de concentração, na diminuição ou na perda de criatividade, no desinteresse por atividades intelectualmente mais complexas. Em vez de aguçar e enriquecer a mente, passamos horas exibindo ou curtindo gracinhas. Por fim, cada um pode ver como se arranja com a pergunta: – Quanto do seu precioso tempo você tem passado com a cabeça nas nuvens ou na nuvem?