Duas matérias bateram ponto no noticiário dos últimos dias do ano passado. Ambas, na seção de assuntos ligados à educação. A primeira tratava da possibilidade de os alunos passarem de ano, mesmo com pendências em até quatro disciplinas. A outra, reclamava da falta de perguntas sobre “como ensinar”, nas provas de concursos para o magistério público.
Não há unanimidade em relação a nenhum dos temas e eu boto a colher no assunto. Vamos por partes.
No tempo antigo os alunos não passavam de ano, mesmo se suas dificuldades se concentrassem em uma única disciplina. Pela nova disposição, é possível ir adiante, levando até quatro matérias pendentes. Ou seja, “rodar” ficou mais difícil. Muitos acham que essa flexibilidade desprestigia o trabalho escolar, que incentiva a moleza do processo.
Na minha opinião, é preferível favorecer o avanço dos alunos, em vez de reprová-los. O mais importante da escola não é atribuir notas, mas ajudar a aprender. Então, ampliar as oportunidades de aprendizagem, se justifica. Vale acreditar que a maturidade aumente com o passar dos meses e que, por isso mesmo, o aluno melhore as condições de aproveitar a nova chance que lhe oferecem.
Outra coisa, sabemos que a reprovação aumenta a evasão escolar. Nada pior para o sistema do que a evasão. Cada aluno que abandona a escola representa uma derrota. Não só para a pessoa, mas para toda a comunidade. A comunidade contará com um membro menos qualificado do que esse jovem poderia vir a ser.
Segundo ponto. Foi Manoela Miranda, a gerente de políticas educacionais da ONG “Todos pela Educação” quem reclamou de que apenas 3% das questões das provas dos concursos públicos avaliam se o professor sabe como ensinar os conteúdos da disciplina. Ou seja, ela queria aumentar o número das questões sobre como ensinar a matéria para a qual o candidato está buscando uma vaga.
Não há dúvida de que um professor precisa saber como ensinar. O caso é que só pode achar um jeito apropriado de ensinar aquele que domina o conteúdo de cabo a rabo, de frente pra trás e de trás pra frente. É por isso que o conhecimento da matéria é indispensável. O “como” ensinar decorre daí.
Sou da opinião de que quem domina o conteúdo e se esforça para passá-lo adiante, vai encontrar a melhor maneira de fazê-lo. Detalhe: não há um único jeito de ensinar. É necessário achar ou criar, dia por dia, aquele que seja mais adequado para a situação e para cada grupo. Cabe acrescentar que a eficiência do ensino também fica pendente da confiança que o professor consegue conquistar e da resposta que a turma dá para os esforços do professor. Ou seja, há muito mais do que um método de ensino para avaliar.
Os concursos talvez devessem testar, isso sim, a disposição, o entusiasmo do candidato a professor por aprender e por ensinar. Testar também a paixão que ele próprio tem para avançar no conhecimento, para aprender sempre.
Sim, o professor tem de gostar de aprender.
Como vai ensinar bem, quem não gosta de aprender?