Voltando de viagem, parei na estrada para almoçar. Fiz o pedido e fiquei esperando. Embora tivesse enfiado o nariz no celular, era impossível não ser perturbada por uma mosca que teimava em voltar ali, por quanto eu a enxotasse.
A mosca me aborreceu ainda mais, quando não fez cerimônia em visitar também o meu prato de comida e os talheres.
Chamei o garçom e reclamei. Ele ouviu e respondeu de cara. Não precisou pensar nada. Disse:
– Não tem o que fazer! E virou as costas.
Fiquei impressionada com a resposta.
Sim, claro, seria estranho ver garçons caçando moscas pelo restaurante… Mas meu espanto se ligou mais à imobilidade do rapaz. Não lhe ocorreu nenhuma ideia, nem que fosse só para se mostrar gentil. Poderia ter sugerido que eu mudasse para outra mesa ou dizer que ele aumentaria o volume do ar condicionado. Sei lá…
O rapaz se limitou declarar a sua total certeza: “Não tem o que fazer”.
O caso me deixou mordida.
Mais ainda, porque eu acabava de ler sobre saúde mental, já que era janeiro e o mês é dedicado ao tema. A falta de esperança em poder mudar as coisas é importante indício de doença – todos dizem.
Nas leituras, soube que a Suécia é o país campeão mundial em saúde mental. Então, lá me fui a furungar, em busca do “truque” deles?
Só que não tem truque. Eles se esforçam por disseminar alguns comportamentos básicos, que valem por ações de prevenção. Fazem mais coisas, claro, mas o alvo é sempre criar ambientes favoráveis à saúde.
As principais fichas são empatadas em promover qualidade de vida. Sabem que ela é fundamental para a saúde mental. Todos são encorajados a agir para melhorar a vida de todos. Julgam que pequenas medidas geram grandes resultados. Por exemplo, se você tiver uma árvore na frente de casa, coloque lá um banco. Os passantes vão sentar, olhar a paisagem e experimentar muita satisfação. (Pode não ser a salvação da lavoura, mas melhora o dia de muita gente.)
Outra aposta: disseminar a ideia de que o suficiente é suficiente. Ou seja, incentivar o contentamento com o suficiente. Afastar-se do excesso e da carência. Tirar o foco do consumismo, da acumulação, do desperdício, tanto como – por outro lado – não admitir a falta do que é básico. Os excessos, segundo o pensamento escandinavo, geram ansiedade, insatisfação e são combustíveis para o adoecimento.
Agora, voltando ao caso da mosca no restaurante.
Viver com mais esperança e agir, principalmente agir, em favor da modificação do que é desfavorável, melhoraria a saúde de todos nós. Melhor ainda, se não negligenciássemos nem aquelas medidas que parecem insignificantes – como dar um jeito nas moscas que vêm pousar no nosso prato…