Em julho de 2001, Elci Rodrigues da Silva saiu com sua família de Santa Rosa e adotou Arroio do Meio para viver. Nunca se arrependeu da escolha.
Foi por causa de trabalho que a família, cinco filhos entre 12 e 18 anos, na época, resolveu tentar a vida na chamada Pérola do Vale. As cunhadas que residiam nesta cidade falavam das indústrias e da diversidade, havia emprego de sobra para quem quisesse trabalhar. Em Santa Rosa, cidade localizada no noroeste do Estado, havia pouquíssima oferta de trabalho, a maior indústria era um frigorífico onde uma única vaga chegava a ser disputada por até 30 candidatos.
Na época, o filho de 18 anos cumpria Serviço Militar em Santa Rosa e precisou permanecer mais um tempo lá, o restante entrou no automóvel Monza da família e tomou a direção de Arroio do Meio. “Trouxemos quase nada, só o essencial que coube dentro do veículo e fomos morar em Rui Barbosa, na casa de uma cunhada que vivia em Portugal há algum tempo, a casa estava desocupada e era toda mobiliada”, descreve.
Em menos de uma semana estava trabalhando na fábrica de calçados Calçados Majolo, e aos poucos também os filhos Samuel, Daniel e Raquel (gêmeos), Jateniel e Isabel ingressaram nesta indústria calçadista, se tornando colegas.
Na fábrica, os minutos que sobravam do intervalo de almoço rendiam muitas carreiras de tricô e crochê e, à noite, em casa, enquanto os filhos estavam na escola, o trabalho manual continuava em meio ao chimarrão com o esposo Alceu (67). A habilidade com as mãos é uma herança da mãe Celina.
“A vida é feita de oportunidades e todo tempo é precioso”, destaca. Num esforço coletivo, em um curto espaço de tempo, a família adquiriu o imóvel onde, até hoje, reside o casal.
Um elo no artesanato local
Elci não faz ideia do número de peças que já produziu, acredita terem sido milhares: tricô, crochê, flores de EVA, pintura, costura em tecido, patchwork, trabalhos em MDF, biscuit, palha de milho e trigo, entre outras técnicas, muitas aprimoradas por meio dos cursos realizados junto ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).
Foi através de sua paixão pelo artesanato, antes um passatempo agora uma fonte de renda, que a santa-rosense tem deixado sua contribuição para o município que a acolheu há mais de duas décadas, sendo uma das sócias fundadoras da Associação dos Artesãos de Arroio do Meio, criada em agosto de 2008 e com sede própria desde novembro de 2019, após anos de espera. “Valeu a pena lutar pela causa, recebemos um belo chalé de madeira com uma vitrine que atrai o olhar de quem passa pelo centro da cidade, próximo à pracinha do Papai Noel. No local são expostos e comercializados os produtos artesanais produzidos pelas sócias artesãs que, seguindo um cronograma, revezam-se no atendimento ao público”, relata com orgulho.
A Casa do Artesão abre de segunda a sexta-feira, aos sábados pela manhã e em datas especiais. O horário de atendimento é das 8h30min às 12h e das 13h30min às 18h. O espaço é também a “Casa do Turismo”, em que as próprias artesãs repassam informações turísticas sobre o município de Arroio do Meio aos visitantes.
Por meio do grupo, Elci tem participado de cursos e feiras em outros municípios e regiões, experiências que se somam e a deixam feliz. “Me dá oportunidade de passear, adquirir material a preços mais acessíveis e, ainda, observar o trabalho de outros artesãos, nada está tão bom que não possa ficar ainda melhor”, revela com um sorriso.
Aos 63 anos e aposentada desde 2024 não vive em função do relógio como em outros tempos, dedica-se à família, a casa onde filhos e netos chegam a todo momento e, principalmente, ao artesanato. Prova disso, é a montagem do próprio atelier no porão da residência. No local pretende reservar uma parede e colocar emoldurados os certificados de todos os cursos que fez, conforme sugestão dos filhos, que garantem que faltará espaço.
“Eu amo Arroio do Meio, mesmo depois de tudo o que aconteceu (referindo-se a enchente de maio), perdemos praticamente todos os trabalhos que estavam expostos na lojinha, a própria casa sofreu avarias, mas tudo foi consertado e, aos poucos, tudo vai voltando a normalidade. Só temos a agradecer a comunidade que aprecia e valoriza o trabalho dos artesãos arroio-meenses, isso é gratificante”, define.
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