De repente nos cruzamos entre as gôndolas do supermercado. “Lembra de mim, ou o Alzheimer já te alcançou?”, perguntou um amigo que há muito tempo não via. Rimos, entre o alívio e o bom humor. Modificados pelo tempo, sem aquele viçoso porte da juventude, mas ainda com o senso de sobrevivência que a maturidade impõe, nos abraçamos e, por alguns minutos, fizemos um resumo de atividades do período em que nos distanciamos. Agora dinossauros, guardávamos histórias como trunfo da juventude passada. “Anota aí meu número, vovô”, brinquei, quase convicto que seria difícil um futuro encontro.
Ex-colegas de trabalho, volta e meia sugerem bate-papo em cafeterias. Outros querem sair para brindar num happy-hour. Tudo sem excessos, para não mexer com a pressão arterial ou outros cuidados que velhos amigos passam a enfrentar. O lado positivo é que nos dias de hoje, para toda alteração provocada pela idade, existe um medicamento adequado, seja ele azul ou incolor. Isso nos ajuda a viver com mais conforto e enfrentar um certo etarismo social – aquele preconceito que discrimina gente saudável apenas por uma questão de idade.
Coroas, tios, tias, tantas vezes olhados com desprezo apesar da larga experiência, são aqueles que têm o conselho certo – ou quase – mas que tentam, ao menos, ajudar. Não querem competir e se houver uma disputa, que seja de melhores avós, ou os mais bem sucedidos na hora de se decidir por um passeio. “Aquele sabe escolher um bom ônibus de turismo para uma escapada ao litoral, ou serra”, dirão os demais veteranos ao perceberem a boa intenção do parceiro. Quem sabe, um tour internacional? Nunca é tarde para conhecer qualquer lugar do Planeta.
Sim, nos tornamos mais vulneráveis e, em função disso, venho me cercando de cuidados para garantir uma velhice tranquila, onde a única preocupação seja cuidar bem do que chamamos de terceira idade. Eu já vivo os sintomas da idade avançada. Ando mais sentimental e, por sorte, igualmente sensível às boas comédias que a vida nos apresenta em leitura, cinema ou teatro. Cultura é saúde, gente! É dessa forma que consigo dialogar com jovens e adultos.
Eu sei o que se passa ao redor. Não preciso participar de tudo ou entrar na balada, porque a minha dança agora é outra. E cá entre nós, é bem divertida apesar das juntas doloridas ou da memória quase cheia. Os intervalos seguirão assim, maiores, até o dia – lá longe – em que se tornarão um definitivo passo para a eternidade.