Na fala do dia a dia a gente não pensa sobre, mas o fato é que a língua serve para várias finalidades. Por exemplo, serve para apresentar reportagens ou, como faço agora aqui, para explicitar uma ideia.
A gente se vale da linguagem verbal para outros fins, além desses mencionados. Como: dar forma às emoções que brotam destrambelhadas no coração de alguém apaixonado. Também se usa a linguagem para fazer
propaganda e incentivar ações concretas, por exemplo,
a tomar uma Fruki ou a dar o voto numa eleição.
Dentre as funções da linguagem, é possível destacar mais uma. Qual seja, a função de desconversar. Quer dizer, falar também serve para “encher linguiça”. Sim. Isto mesmo. Por incrível que pareça, a linguagem tem mais esta serventia. E não é uma função secundária ou acidental. Muito pelo contrário. Todos sabemos que falar pode ser intencionalmente um recurso para não dizer nada. Um exemplo é a cera do narrador esportivo que espera o resultado do VAR. Outro, a conversa entre estranhos no elevador.
Em casos assim estamos fazendo uso do que se chama de função fática da linguagem.
Claro que ninguém precisa conhecer a
expressão “função fática”, para identificar a
hora em que escuta embromação.
Eis o ponto. É nesta panela que boto a minha colher com o objetivo de fazer um protesto. Quero reclamar do costume de esbanjar no uso da função fática da linguagem e por usá-la na hora errada. Ou seja, do costume de fazer de conta que se vai passar mensagem decisiva e não botar nada ali… Só o barulhinho da fala. Quero reclamar do costume de abusar das palavras, de esvaziá-las e usá-las assim mesmo, sem nada dentro, puro vento. Enrolar – se preferirem.
Não posso me conformar com os discursos em que as palavras não significam nada, seja por que repetem tudo o que já foi dito, seja por servirem apenas de cabide para pendurar o vazio. Não posso me conformar com as reuniões infindáveis em que os presentes tomam a palavra só pelo prazer de ouvir a própria voz. Não posso me conformar com as frases elogiosas, que encobrem as falhas, penteiam vaidades ou, simplesmente, desviam a atenção. Exemplo disso é o candidato que impressiona a plateia, ganha a simpatia e o aplauso, ao mesmo tempo que cai fora de qualquer compromisso real. Quem nunca viu isso acontecer?
O resultado é sempre o mesmo: tempo jogado fora.
Penso, até, que aqui se encontra uma das razões do atraso em nosso país. Alguém já fez o cálculo das horas gastas com discursos em que o falante finge que fala a sério e os ouvintes fingem que acreditam?
O que escapa à minha compreensão é a razão de darmos tanto espaço para conversa fiada? Seria o gosto por pegar leve, em vez de ralar a sério? Seria um jeito charmoso de levar a vida, sem brigar nem atucanar ninguém?
- Seria o quê?