
“Mayday” é o pedido de socorro mais desesperado que existe. É usado principalmente na aviação e no mar. Quando um piloto emite o “mayday”, sinaliza que se encontra em perigo extremo e precisa de ajuda imediata.
O termo vem da expressão francesa “m’aidez”, que significa “ajuda-me”. Foi adotado oficialmente como chamamento de emergência nos anos 1920, considerando que seria a expressão mais facilmente entendível por falantes de várias línguas.
A expressão é conhecida daqueles que assistem a filmes que mostram grandes desastres. A mim me chamou a atenção no caso da queda do avião da Air India, em 12 de junho último. O avião decolou e se manteve no ar poucos segundos. Só deu tempo mesmo para emitir um desesperado “Mayday, mayday”, antes de cair e explodir.
Mas tenho de confessar que acontecimentos recentes me dão ganas de emitir um “Mayday” também – mesmo que seja apenas metaforicamente. O novo conflito aceso no Oriente Médio; os acontecimentos nos Estados Unidos – só para falar de temas que incendiaram a mídia nos últimos dias – também fazem baixar uma sensação de sufocamento. Para onde é que se pode correr? Botar fogo no circo poucas vezes pareceu tão fácil. Acirrar conflitos em vez de buscar entendimentos está visivelmente na ordem do dia.
O poeta Affonso Romano de Sant’anna escreveu que “Os homens amam a guerra, não há perigo de paz.”
Não estou puxando o assunto das atuais pelejas para tomar partido. Faço esforço é para entender como os desentendimentos se criam dentro das pessoas. No Oriente Médio, nos Estados Unidos e também aqui, entre nós.
Parece que os conflitos nascem da intolerância e esta brota onde existe certeza maciça. A certeza de estar com a razão – e com a força para se bancar – encoraja a teimar em um só entendimento. Sucede que a certeza é paralisante. Ela não abre brecha para negociação alguma. Não reconhece a possibilidade de nossa visão ser incompleta ou equivocada. A certeza tem o pé fincado no chão e está dizendo: daqui não saio, daqui ninguém me tira.
A convivência pacífica é impossível quando se entende o mundo como o conjunto de duas cores que se opõem. Se a gente acreditar que a realidade está dividida assim: em dois lados, sendo um deles o certo e o outro o errado, não há o que fazer. A não ser converter os opositores. Ou matá-los.
Mas o mundo é um mosaico que mistura todas as cores.
“Tornar-se sábio não é compreender melhor; é saber que há mais coisas para compreender”- já disse alguém.
Avançaríamos na construção de um mundo mais pacífico, se fosse possível reconhecer, que a única coisa que não se pode tolerar é a falta de tolerância.