
Algumas vezes eu me pergunto se está tudo realmente bem encaminhado na minha vida. Uma amiga psicanalista me tranquiliza dizendo que todos nós passamos por esses momentos. Questões existenciais são perguntas profundas sobre a natureza da existência humana, o propósito da vida, a liberdade, a morte. Qual o significado de tudo isso? E aí, outro amigo, aqui do meu bairro, partiu para a constatação que considera definitiva: vivemos entre a ilusão da felicidade eterna e a certeza do preço que pagamos para encontrá-la. Foi aí que mudei de assunto e decidi falar sobre futebol.
“Será que vai esfriar ainda mais?”. Minha pergunta congelou no ar, porque meu vizinho, voltou a insistir sobre a condição humana, a busca da perfeição por meio da sabedoria, empatia e comportamento íntegro. Corri até a sala, abri uma garrafa de vinho e decidi esquentar meus amigos com taças de um bom cabernet. Mas ao segundo gole, lá veio o vizinho reafirmando que a noção de perfeição pode ser questionada, “afinal errar, como o vinho que tu me oferece agora é parte de nossa condição existencial”.
Bebia o vinho que eu oferecia e ainda criticava me dizendo para não ficar preocupado, afinal a imperfeição fazia parte da humanidade. “É o que dá asas à evolução. Por isso, na próxima vez, vais me oferecer um Malbec, vinho bem mais encorpado e adequado à temperatura de hoje”, profetizou com ar de falsa arrogância. E aí respondi que escreveria sobre essa conversa gelada e esquisita em minha coluna semanal do AT.
Algum leitor do Vale Taquari perceberia que, sobre evolução, meu amigo e vizinho sabia muito pouco ou filtrava apenas o que lhe servia em bate-papos domésticos. Corri à adega e voltei com o vinho encorpado exigido. “Enfim, conseguimos dar uma pitada filosófica sobre a busca por sentido em um mundo aparentemente sem significado em sua essência. E um viva às boas safras de tintos robustos, as conversas malucas, as provocações bem-humoradas e a paciência de quem chegou até o fim deste texto. Tim-tim!