
Mesmo à distância acompanhei a expectativa e posterior regozijo da nossa comunidade através da inauguração da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital São José. A conquista é fruto do esforço, trabalho e dedicação de muitas pessoas, lideranças e políticos. A alegria, no entanto, não pode embaçar o fato de que se trata de um direito finalmente tornado realidade.
Morando há décadas em Porto Alegre, costumo ouvir críticas ao que a imprensa – indevidamente – apelidou de “ambulancioterapia”. O termo consiste em designar o transporte de enfermos e necessitados de tratamento de saúde para a capital gaúcha.
Infelizmente as promessas de “priorizar a saúde” – ao lado da educação e segurança – não resistem a dois meses de qualquer administração pública. O Rio Grande do Sul, com seus 497 municípios, historicamente tem uma divisão injusta de centros de excelência em medicina.
Casos mais graves ou severos exigem dos prefeitos um esforço excepcional para transportar e alocar seus conterrâneos com problemas de saúde. É uma luta inglória porque não tem fim. Pelo contrário. A cada estação os riscos à população se agravam.
No verão temos o crescimento fenomenal dos casos de dengue que causam a morte de milhares de brasileiros em 2024 e este ano. O arrefecimento do calor trouxe as baixas temperaturas e a multiplicação de ocorrência de doenças respiratórias.
A contrapartida diante do que
pagamos de impostos é ínfima
As emergências, nos quatro cantos do Estado, estão abarrotadas de pacientes de todas as idades e regiões. Hospitais de campanha são montados para fazer frente às ameaças letais. Uma “simples gripe” em poucos dias pode se transformar em casos que exigem internação na UTI em poucos dias.
O registro de temperaturas extremas negativas ao longo desta semana só fizeram piorar o quadro. A UTI do Hospital São José é mais um instrumento para melhor atender o cidadão e minimizar o sofrimento da população. A expressão “enxugar gelo” se encaixa com perfeição quando se fala de soluções para a saúde. É um drama que parece sem fim. Novos desafios surgem a cada dia.
A centralização de recursos em Brasília é uma distorção histórica, cuja mudança não se vislumbra num horizonte tão próximo. Em 2023, os municípios receberam cerca de 2,32% da carga tributária total do país, enquanto a União ficou com aproximadamente 22% e os estados com 8,12% de acordo com a CUT. Os dados dão a perfeita dimensão da injustiça que, apesar da luta de vereadores, prefeitos, deputados e governadores, se mantém.
A conquista da UTI deve servir de orgulho, mas não pode ofuscar o fato de que ganhamos muito pouco diante do tanto que recolhemos de impostos todos os dias.