O dia seguinte a um feriadão é sempre caótico. Carros amontoados nas rodovias, gente de ressaca se apertando no asfalto a provocar pequenos acidentes e grandes engarrafamentos. E lá estou eu, que tenho o privilégio de morar no campo, suportando essa turma estressada a xingar-se na histeria das buzinas, dos rostos amarrotados e impacientes. Dedos apontando ameaçadoramente um simbolismo fálico, talvez em seu único momento plenamente ereto! Sei lá, choveu nas praias mais ao norte. Restou a orgia do mau-humor! Cadê o relaxamento do litoral? O ar do sítio? A brisa da serra?
Eu também estava tenso. O carro surgiu com um ronco novo. Hoje mesmo agendo com o mecânico! Lá vai dinheiro em tempos de inflação. Segui deixando os ansiosos cortarem a frente, saírem a mil pelo acostamento na quarta-feira onde tudo parecia mesmo cinzas. Os motoqueiros em sua horda de equilibrismo suicida rasgavam especialmente todas as leis de trânsito e de civilidade. O carnaval deles foi difícil também.
E eu atento ao rádio, a todos noticiários e meu filho que quer ouvir Beatles. All You Need Is Love, canta ele, ironizando a tensão dos que nos cercam com seus veículos afobados. Mas preciso ouvir o noticiário. É trabalho, Mas tanta coisa ruim flui via FM que até eu, sinto aquela vontade de acelerar e tomar o rumo da praia. Porque afinal, como de costume, acabou o feriado e o sol veio a pino. Calor e mar verde. É de tirar do sério mesmo.
A fila ao lado está mais rápida. É para lá que eu vou, em uma manobra radical. E subitamente, a fila trava. Murphy e sua lei implacável! E todos que estavam atrás, ultrapassam o Ari e seu veículo sem manutenção. Mas tudo bem, cheguei a tempo de postar essa mensagem e dividir essas primeiras reflexões pós-feriado (putz! Com ou sem hífen?)

