Recebi nas últimas semanas, quase duas dezenas de e-mails com dicas para salvar, ou evitar, casamentos em crise. Não sou especialista, mas um jornalista que especula a existência humana, sempre no sentido de torná-la mais divertida. Li teses de mestrado, doutores em psiquiatria e psicologia, mães de santo, pastores e padres. Alguns casados, outros teóricos apenas. A grande maioria valoriza o sentimento amoroso e anda preocupado com o casa-descasa entremeado de traição ou total desinteresse por uma saudável vida a dois.
As dicas chegam próximo ao ridículo quanto lidas atentamente: “romantismo que estimule a criatividade do casal” ou “cultivar momentos a dois. Passeios, cinema, sair para dançar. Criar oportunidades para o lazer, não só rotinas e obrigações cotidianas”. Mais essa: “exercite a mente com pensamentos estimulantes ou eróticos durante momentos diversos do dia: pensar em sexo é um grande afrodisíaco”.
Não acredito! É verdade? Imaginem este gordinho que vos digita tendo uma ideia sexy e precisar sair às pressas ao gabinete do chefe. Constrangedora situação. “Hum… Sim? Responderei languidamente, enquanto o corpo se prepara para algo melhor que não acontecerá. Os conselheiros profissionais afirmam ainda que as mulheres adoram elogios. Isso é inédito! Como não percebi antes?
Em outras palavras, não existem segredos ou mistérios. Só não podemos nos transformar em gente sem graça. Gente do tipo cercada de parentes chatos, amigos mais inconvenientes ainda e uma administração errática do cotidiano. Passear faz bem? Mas como evitar de levar a sogra – ou irmãos e primos – quando estes vivem com o casal e não dão folga? Chatos!
Como pensar em sexo durante o dia, se à noite já é trabalhoso convencer uma das partes a uma relaxante rapinha? Imaginem ele e ela no lar, ou no trabalho, enfrentando chefias e colegas competitivos que fiscalizam cada tomada de ar mais longa, cada olhar perdido em pensamentos? Ou em uma situação mais moderna, onde ele esfrega o piso da casa e ela, administra os negócios da família. O cansaço é idêntico, a rotina segue o mesmo caminho. A chatice predomina quando agimos assim.
Na grande maioria das vezes, a contaminação da mesmice de ambientes coletivos acabam contaminando a intimidade e levam os casais a erros enormes. Ambientes de energia ruim, de inveja, rancor, onde missões profissionais sanguessugas levam tudo a um tédio mortal.
Mas teu caso é diferente? Teu marido sempre foi um mala sem alça? Tua mulher é uma infeliz que só sabe reclamar? Quem mandou ser tão inseguro e achar que nesta idade não pegaria mais ninguém? Quem se ama, confia mais e seleciona melhor.
Mas este assunto também é tema para outras literaturas, talvez menos óbvias. Quem sabe nestas, a resposta anti-chatice?

