Sou um pai de noiva que precisa emagrecer o suficiente para entrar em um terno novo e bem cortado, no dia do casamento. Isso será no final de outubro. Ainda tenho um tempo, mas o corpo reage lentamente. É inimigo do tempo, se abraça nas calorias, como se dependesse delas para fazer andar o relógio da vida. Meu cérebro, esse mala, também não parece muito convencido de minhas verdadeiras e honestas intenções. Teima em insuflar a gula que ultrapassa todos os limites do pecado.
No frigir dos ovos (com guarnição de arroz, creme quatro queijos e suculento bife de filé) nós os gordinhos, sofremos muito mais do que os outros “normais”, ou magros. Nos olham atravessado em muitos momentos da vida. Se estamos comendo um hambúrguer, afirmam: “depois não querem ganhar peso”, como se fosse só isso que torna alguém obeso. Fatores hereditários, por exemplo… Deixa assim. Não vou entrar na pauta que dirão ser desculpa de gordo.
Nas lotações, nos ônibus e aviões, reclamam quando ocupamos mais espaço nos bancos. Ora que reclamem de quem projeta tudo pelo mínimo. Outras grandes lojas criam constrangedoras peças GG pequenas. É verdade! Nesse inverno vesti uma jaqueta GG que serviu perfeitamente em minha esposa, magra (como todas as mulheres, mesmo as que não o são).
Nos resta o carinho das cozinheiras caseiras, das avós e das tias, das mamães à moda antiga. Disputamos avidamente o último bolinho de bacalhau, aquela torta esquecida na geladeira ou o resto no prato das crianças (que escapam dos legumes que detestam). Somos a alegria das sobras, das invenções gastronômicas fracassadas. Nós comemos de tudo e tudo.
Quem não sabe que existem magros muito mais glutões? Somos apenas os de metabolismo lento. E as advertências apavorantes sobre doenças terríveis? Ameaças pavorosas como, por exemplo, sermos obrigados a comprar em lojas especializadas em roupas tamanho extra G. Só de olhar essas vitrines me bate ansiedade e sinto a mais louca vontade de comer quindim. Delícia!
Não existe gordo elegante, boa pinta. Beleza não põe mesa, mas somos vistos como simpáticas aberrações. Além disso, precisamos ouvir conselhos, aceitar cartões com nomes de profissionais e dietas maravilhosas, shakes, academias e o escambau, sempre com o ar compungido e agradecido. Como ser alto-astral se durmo e acordo preocupado com a balança. Acompanhar meu perfil em um espelho, ou nas vitrines, é um imenso sacrifício.
Até outubro, meu prazo definitivo, restam as frutas, hortaliças e carnes magras. Um dois, três dias. Adeus risotos, cremes, filés ao molho de natas, Quero voltar ao mundo dos seres normais. Onde não terei apelidos constrangedores e maravilha, poder chegar a um restaurante e traçar uma mega feijoada sem parecer coisa de gordo.
O terno está encomendado. O casamento é, para sorte de todos, confirmadíssimo. Agora, a dieta. Ai! Vai depender de muita boa vontade, muita caminhada que não seja em direção às panelas, aos bons restaurantes ou meus vinhos e cervejas artesanais.
Espero que minha filha reconheça esse esforço em ser um pai elegante no dia mais importante da vida dela. E que seja para toda a vida. A união deles e meu peso reduzido, é claro. Bonito não dá para ficar. Mas magro, isso é sim, é possível. Veremos.

