Quem leu a coluna anterior e não entendeu nada, ou achou que o autor sofrera um mal súbito está quase correto. Na verdade, depois de muito reescreve – o habitual tira e põe ideias – foi definido um texto final considerado o melhor. E lá se foi o e-mail para a redação carregando, não apenas a versão final, mas todos os esboços testados. Como diriam antigamente, eu produzira um autêntico Ninho de Mafagafos. Distração imperdoável, falha que consegui reverter em parte, pois a versão online do AT foi corrigida. “Um ninho de mafagafos tem sete mafagafinhos, quem desmafaguifar, um bom desmafaguifador será. Assim como eu desmafaguifei, um bom desmafaguifador serei.”
É uma espécie de pegadinha gramatical, um trava-línguas. Com certeza não era essa a minha disposição. Os irreverentes Mamonas Assassinas cantavam, em tom debochado: “Você foi agora a coisa mais importante que já me aconteceu neste momento em toda a minha vida. Um paradoxo do pretérito imperfeito”. A minha tentativa, não era o deboche, mas um comentário bem humorado, sobre soluções inusitadas para problemas que, às vezes, parecem insolúveis. O caríssimo café produzido com grãos defecados pela ave Jacu era exemplo de que mesmo na maior “M”, tudo pode acabar comum “S”, de solução, é claro.
Acabei neste ninho de mafagafos, expressão que na gíria mais antiga, significava “antro de malandros”. Não sou um marginal das palavras, podem estar certos. Não curto surrupiar verbetes, trocar adjetivos ou misturar substantivos. Meu maior pecado é separar com vírgula o verbo do sujeito. Mas isso não torna nada ilegítimo ou incompreensível. Afobado para não atrasar a edição, tropecei no cuidado básico que é uma revisão vigorosa, de algo que será impresso, ou seja, não terá volta.
A vida ruge, ou melhor, urge e somente utilizei a segunda pessoa do singular do imperativo do verbo urgir, porque a primeira voltara para casa, de cabeça baixa, triste com o erro que circulou entre os leitores deste espaço. Tenho ainda outra preocupação. Se ninguém percebeu, ou pior, achou que era uma questão de estilo, entro ainda mais em depressão. Aliás, estou achando que não deveria ter tocado neste assunto, alertado os mafagafos. Agora é tarde, o pessoal da redação já está de olho no relógio. Outro artigo, só na semana que vem.
Um colega maldoso disse que fui influenciado pelo estilo confuso da presidenta do país, onde figuras de linguagem acabam atropeladas por vigorosas pedaladas fiscais. Justo eu, que não tenho pedalado sequer em minha velha bicicleta. Caso alguns leitores exijam meu impeachment no AT, responderei ser apenas usufrutuário dos artigos aqui publicados.
Aceito os lucros pelo investimento de leitores fiéis e não admito abandono ou cassação, sem antes o direito a uma defesa justa e imparcial. No tribunal dos leitores, tenho certeza de absolvição em todas as instâncias. Assim, mafagafos e Jacus, por favor, abram espaços que a minha lição eu aprendi.
Na semana que vem, retornarei com algumas histórias típicas do relacionamento entre homem e mulher, onde palavras repetidas, costumes e sentimentos, são frequentes. E as palavras mais cristalinas, podem esconder o lodo de sentimentos obscuros. Muitos, mesmo os veteranos iguais a mim, nem percebem e caem nas mesmas conversas. Por enquanto, obrigado por me aturarem e desculpem pela distração.

