A guria leu o artigo do final da semana passada e indignou-se. “Tanta desgraça acontecendo e esse cara escrevendo sobre amenidades”. Um amigo que temos em comum, partiu para a defesa. “As crônicas do Ari são leves, mas nunca alienadas”. Pensei em responder por e-mail à jovem leitora. Explicar meu ponto de vista e a certeza de que uma forma de reagir a todo o mal é não fugir, ou concentrar-se exclusivamente nas dores, nas pautas cruéis. A vida pode ser mais amena. O ralo por onde escorrem as tragédias não pode levar consigo a esperança, o bom humor e a capacidade de sorrir.
Na semana passada fui ao Rio, assistir os Rolling Stones no Maracanã e, confesso, cheguei assustado. “Rio 40 graus. Cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos. Capital do sangue quente do Brasil. Capital do sangue quente, do melhor e do pior do Brasil”. A pauta da violência, dos malandros à beira-mar preocupava. Mas em poucas horas, a visão das montanhas, das praias, das ruas em obras, dos milhares de turistas – em todos os idiomas – absorvendo toda a energia dos dias de sol, das noites quentes, me acalmaram. Eu não baixei a guarda. Continuei alerta, mas nas ruas, nos ônibus que me levaram a todos os pontos turísticos, encontrei cariocas simpáticos, que ajudavam mesmo sem eu pedir, a me locomover melhor e em segurança. Os malandros, a “cachorrada doentia, a escopeta de shortinho de algodão”, estava calada em seus cantos.
Minha busca não era a do terror, era justamente a das amenidades. Eu estava lá para apresentar uma Cidade Maravilhosa à minha esposa, assistir a maior banda de rock do planeta justamente na terra do samba – do carnaval espetáculo – e me dei direito a esses momentos bonitos. As vistas do bondinho, na Urca, ou o Cristo, no Corcovado, foram impactantes e felizes. Fazer o quê? Permanecer em casa, fugindo do mundo não mudaria nada, ou pior, daria mais liberdade àqueles que nos atormentam com sua fúria, com o ódio que lhes implantaram na alma. A visão dos morros favelados, ainda impressiona! Mas até lá tem espaço para a paz, para o turismo!
Essa guria, que achei depois no Facebook, rodeada de amigos, “vivendo la vida loca”, como ela mesmo descreveu, também se alimenta de amenidades para suportar o cotidiano feroz. Se às vezes sou um tanto sarcástico, ou aparentemente pueril, é porque preciso reagir a pressão que me assalta 24 horas por dia, doida para me ver subjugado, sem graça, com medo de sair à rua, ou contar uma piada, preparar uma refeição legal para familiares e amigos. Não ficarei a gemer a ansiedade e o medo de que, a qualquer hora, o crime, a corrupção, o mal enfim, venham a bater na minha porta.
É claro que não tenho o corpo fechado, simplesmente decidi que não acenderei velas contra o mal, mas sim a favor do bem. É simples assim. As amenidades, são brisas que refrescam o espírito, nos dão mais força para seguir de prontidão. Esse cara que vos escreve semanalmente, não desiste. Quer ver mais textos leves, inspirados e criativos. Seria hipocrisia fechar a cara e acreditar que somente relatórios pesados e insossos, banhados em estatísticas trágicas, salvarão o dia.
Minha jovem e querida leitora, como diz a canção da Fernanda Abreu e do Fausto Fawcett. “os governos misturados, camuflados, paralelos, sorrateiros” das cidades, decididamente, não derrubarão a força de quem acredita que para todo mal há cura (obrigado, Lulu Santos).

