Morreu na madrugada de quarta-feira passada, o produtor dos Beatles, George Martin. Não se preocupem, não escreverei sobre a beatlemania. Quero valorizar a figura do “maestro” – aquele sujeito que fica lá em cima, batuta na mão – assegurando a harmonia do conjunto, ou caprichando no arranjo para um solista. É isso que não temos, um bom maestro! O exemplo dos quatro cabeludos ingleses é mais do que válido neste sentido. Antes de chegarem aos estúdios, ralaram tocando em quase duas mil apresentações como banda cover, desde o Cavern Club, um bar de blues, até as boates de Hamburgo, na Alemanha. Eram divertidos, apaixonados e ambiciosos. Mas crus.
Quando o também jovem empresário Brian Epstein percebeu a pegada dos guris a incendiar o público destes botecos enfumaçados, batalhou por oportunidades em uma gravadora. Conseguiu um selo sem prestígio na gravadora EMI. Lá, um desconhecido – um certo George Martin – acompanhava trabalhos medianos ou fora do universo musical, como discos de humor. Ele percebeu que os guris precisavam de orientação, tinham grande talento, mas perdiam-se em acordes bonitos, desperdiçados desde a afinação dos instrumentos até o capricho na hora de compor uma canção.
Olho para a minha vida e percebo o quanto é importante iniciar um projeto com um mínimo de organização e equilíbrio. A inspiração, a emoção e o talento, são fundamentais para motivar, chamar a atenção das pessoas. Mas o que fazer logo adiante? Como seduzir os que nos cercam com nossas canções, nossas ações? Eu sinto que perdemos muito tempo em nosso país em busca de um maestro que saiba transformar nossas mais toscas harmonias em algo positivo.
O Brasil é uma grande e bela orquestra. Mas ainda lhe falta um maestro à altura de suas aspirações. Ainda estamos nos bares enfumaçados, nas boates de má fama, inferninhos onde se vende o corpo e a alma, em troca de fortuna e reconhecimento público. Alguns agora caem. O Judiciário conquistou um maestro afinado, que escapou dos plágios de tantas omissões. Mas não é tudo. Precisamos mais, precisamos ensinar ao povo que tudo é muito maior do que o egoísmo das causas pueris, das conquistas mentirosas.
Só para seguir o que cantavam os pupilos de George Martin, a canção “Revolution”, pedia àqueles que sonhassem em tornar-se líderes das grandes causas, que iniciassem a sua revolução a partir de suas próprias consciências. O novo, não pode repetir os defeitos de caráter daquilo que pretendemos derrubar. Aqui, banimos os temas de orquestras que cantavam a corrupção para outros temas regidos pelos mesmos músicos, tanto à direita, quanto à esquerda.
Os arranjos serão sempre os mesmos. A criatividade trocada por plágios indecorosos, onde as cifras das partituras acabam trocadas por cifras monetárias. Quem sabe o espírito do maestro George Martin encarne em algum homem público de visão, que saiba tirar dessa nossa “Ordem e Progresso” um acorde que não seja dissonante e sim, perfeito para todas as vozes, todas as rimas, deste povo cansado de maestros a reger apenas os temas que chegam aos ouvidos em monocórdias delações premiadas. Prêmio por prêmio, ainda prefiro um Grammy na categoria ética e vergonha na cara.

