Coelhinhos, cestas de vime, ovos coloridos. É tempo de Páscoa, outra vez. As datas festivas se repetem quase instantaneamente. O Natal passou, ficaram as dívidas parceladas no cartão. A criatividade é saber evitar o conflito entre prestações natalinas com outros tantos feriados e datas especiais. “É tudo despesa”, argumentou a jovem mãe a reclamar dos altos preços, enquanto passava por um daqueles “túneis” de confeitos que os supermercados organizam. Desta vez com chocolates reduzidos em tamanho, mas no preço, sei lá… Acho que mais uma vez estamos sendo iludidos.
Quando guri ouvia atentamente o que dizia minha mãe sobre o significado da Páscoa para judeus e cristãos. Achava tudo muito bonito, mas esperava ansioso pelo ninho, no domingo, que meu pai escondia sempre em algum lugar diferente. A alegria das crianças está nas cores, no aroma e sabor de tanta guloseima. E associar ovos coloridos e coelhos, com a fé, passa a ser missão para familiares e professores. Cristãos celebram a ressurreição, judeus, a libertação e comerciantes, as vendas!
Uma amiga, que participa destas feiras de artesanato, afirma que a Páscoa é especialmente boa porque facilita o comércio de produtos manufaturados. Cestos, envelopes, bonecos, doces e chocolates (embora o calor a derreter ovos e coelhos). A Semana Santa, que antecede a comilança, em tese seria de contrição e jejum. Mas tudo acaba em banquetes caseiros. E aí? Vamos condenar esse povo?
É chance das feiras municipais literalmente “venderem seu peixe”, muitos integrando cooperativas de piscicultores que oferecerão carpas, tilápias e outros peixes de água doce que não têm o mesmo espaço e preferência, se comparados aos que vêm do mar. Amigos e familiares estarão reunidos. E isso, em tempos de tanta desagregação, já é uma grande vantagem, neste mundo velho de tantos ódios, tanto isolamento, apesar dos magníficos novos espaços virtuais.
Confesso que sofria muito quando era obrigado a ficar ouvindo apenas música erudita, réquiens cheios de dor infinita nos tempos passados de minha infância. Hoje, podemos dedicar algumas horas, minutos para a meditação, mas não vamos deixar de celebrar a capacidade humana de renascer para o bem viver. Apesar de tudo, é uma forma de entender a Quaresma.

