A beleza é um fardo? Logo após a notícia sobre a morte da ex-Miss Brasil Fabiane Niclotti, encontrada morta no apartamento onde morava na terça-feira à noite em Gramado, acompanhei dezenas de especulações sobre a tragédia. Tão jovem, tão linda, com um futuro certamente encaminhado e, de repente, jazia ali, sem vida, com a beleza pálida em um cenário triste. Os seres belos e sedutores não deveriam ter todas as portas abertas para a felicidade?
Certa vez, uma amiga que trabalha em agência de empregos, disse que sentia dificuldades em colocar no mercado de trabalho mulheres de grande beleza. Os futuros contratantes se intimidavam e as rejeitavam. O mesmo acontecia, embora em menor escala, entre homens. Pior eram as sugestões impregnadas de preconceito ou assédio sexual, com frases tipo, “uma moça tão linda não precisa nem trabalhar”. Não sei o que levou Fabiane à morte. Talvez um estado depressivo crônico, conforme especulou o delegado que atendeu a ocorrência.
Gente bonita também é depressiva? Talvez o exemplo maior, o mais emblemático, seja o de Marilyn Monroe. Que suicidou-se reclamando da solidão imposta, quem sabe, por sua beleza e sensualidade mal administradas. Uma pesquisa da Universidade de Bristol, na Inglaterra, diz que mulheres bonitas podem levar homens à loucura – grande novidade, vocês dirão – mas um estudo é sempre válido, se obter respostas ao que parece óbvio.
Segundo a matéria que li na revista Super Interessante, eles selecionaram 51 homens heterossexuais e pediram que dessem notas às mulheres de 20 fotos. Depois perguntaram qual era a probabilidade de usarem camisinha caso fossem transar com elas. O resultado surpreendeu os envolvidos na pesquisa – quanto mais bonita era considerada a mulher, menor a chance de usarem camisinha em uma relação.
Assim como não há respostas para casos como o da jovem miss encontrada morta, os estudiosos ingleses ainda querem saber porque correriam o risco de contrair uma doença venérea grave, só porque eram bonitas, enquanto que com as menos vistosas, todos disseram que usariam preservativos. Quem sabe seria um fator primitivo de instinto, do macho que escolhe a fêmea mais atraente para a reprodução da espécie.
Os homens pesquisados – alguns já maduros e experientes – reconheciam que, quanto mais lindas, mais assedias e, portanto, mais chances de transmitir doenças teriam. Mas não sabiam explicar a irracionalidade do ato. “Beleza não põe mesa” dizia minha avó, quando me via apaixonado pela menina mais bela e mais arrogante do bairro.
A beleza, de certa forma, perturba, envolve emoções do amor ao ódio, da popularidade à solidão e por isso, os pesquisadores envolvidos na pesquisa imaginam que, no fundo, tudo possa ser resolvido enfrentando uma educação sexual que vá além do fisiológico. Ensinar jogos psicológicos, por exemplo, aos mais jovens, prepará-los para lidar com a inevitável atração diante do belo, com táticas semelhantes as que superaram etapas difíceis em um vídeo game.
É justamente uma plataforma de game que os pesquisadores pensam desenvolver como alerta para que a atração nunca diminua os cuidados em uma relação. Mas isso é tema para outro debate, eu que não sou galã, nem fã de games, criei meus métodos próprios para lidar com os riscos da atração física que seduz e inebria. Na minha idade, aprendi que a única beleza eterna, é aquela que se irradia de dentro pra fora. E sobre esse vídeo game, fico aqui imaginando, qual seria a recompensa oferecida aos vencedores.

