Toda a vez que assistia ao apresentador do Jornal Nacional dirigir-se até a garota do tempo, com aquele passo desengonçado de cachorrinho em busca do osso, eu imaginava que a coisa não deveria estar muito bem em casa. Era um jeito tipo, “sou especial, vocês percebem? Minha esposa não me observa mais”. Duas estrelas do jornalismo global, dois egos alimentados pela mesma fonte, pouco a pouco, certamente passaram a ocupar muito espaço em seus individualismos e pouco sobrou para o que chamavam de lar.
Outro casamento – este político – também não soube acompanhar o ocaso da estrela maior e acabou em rumoroso impedimento. Mas o que esperar de relacionamentos – e isso vale para nós, humildes mortais – onde tudo é calculado, principalmente, em planilhas rasas? O entorno é sempre uma parte importante para o equilíbrio de qualquer relação e as decisões, sempre devem sair um uníssono.
Por vivermos tempos de extrema violência e frivolidade urbana, sofremos a tentação de acreditar que tudo isso é fruto do excesso de gente caçando Pokémon e tantas outras futilidades. Aí fico aqui matutando quais foram os impedimentos que evitaram uma mistura sadia entre o lúdico e o compromisso? Será que celebridades tem como reclamar da crise? Da conjunção de estrelas?
Quem ler, por exemplo, o escritor francês Honoré de Balzac perceberá que lá no século XIX, tudo era muito semelhante ao que vemos agora. A hipocrisia da sociedade, a grande comédia humana, trocou as vestes, criou novos brinquedinhos, mas continua alimentada pela mesma cegueira, embalada em vaidade e egoísmo.
No fundo, ainda resistimos à necessidade de doação, de entrega, exigências mínimas para uma saudável vida à dois. Não estamos diante de câmeras onde vestimos a elegância, moldamos palavras bem construídas por dezenas de redatores, mas a vida também pede silêncios recheados de eloquente sapiência.
Como atingir esse estágio de sabedoria se continuamos, cada vez mais egoístas e, tantas vezes, inconscientemente auto-destrutivos? Em pleno século 21, muitos casais continuam a formar-se assim, entre interesses e devaneios individuais. Esquecemos, como bem argumentava Balzac, que não é o marido ou a esposa, mas a família, o autêntico elemento social.
E não me confundam com um velho pregador de relações chatas e estéreis. Eu me refiro à necessidade extrema de um companheirismo pleno, onde abandonamos a condição de solteiros para um perfil de casal. Íntegro e, na maioria das vezes, indissolúvel.
Milhares de fatores podem provocar um divórcio. Então é muito mais fácil cultivar o que há de bom, o que há de mais simples e singelo, alguns poucos valores como respeito, humildade e criatividade, para compor uma verdadeira e essencial relação amorosa. E viva Balzac!

