A jovem senhora subia a avenida Borges de Medeiros, próximo a esquina do Tudo Fácil, no Centro Histórico de Porto Alegre com um olhar absurdamente pesado. Ao me aproximar, notei que chorava. Aparentava angústia ao agitar a cabeça como a negar a tristeza. O que teria passado, já nestes primeiros dias do novo ano? Impossível prever no corre-corre dos grandes centros urbanos, onde simplesmente nos cruzamos, indiferentes.
O calendário marca friamente – seja em cálculos lunares ou solares – o virar de página dos meses e anos e, no mínimo, serve para que possamos estabelecer as agendas do nosso cotidiano com alguma organização. Mas não significa que todo o mal fugirá apavorado feito bicho durante os fogos de artifício. Os problemas não serão engolidos pela senilidade de 365 dias que passaram voando, infelizmente.
Dias depois, ao passar pelo mesmo local, reencontrei a moça. O calor abafado e úmido não a impedia de um ar sereno, ao lado do rapaz que lhe dava as mãos. Sorria, confiante. Formavam um típico casal em sintonia. Teria sido ele a causa das lágrimas nos dias anteriores? Ou a solução para acabar com a tristeza? Na verdade o que eu gostaria de expressar com essa conversa é que o simples trocar de calendários pouco muda em nosso cotidiano.
Existe uma sensação de alívio, tipo adeus ano ruim, alô prováveis bons tempos a cada final de ano. eu, por exemplo, mesmo encarando um ano ruim, pesado, com violência e corrupção ocupando a mídia, não tenho o que reclamar de 2016. Projetos legais, problemas com soluções encaminhadas, ou seja, muito pouco a lamentar.
Depois da comilança, dos abraços e do foguetório na passagem de ano, nos resta o silêncio das estrelas. É um momento para reflexão, para confirmar uma bênção aos projetos de reforma que dependem, basicamente, de um basta a tudo aquilo que procrastinamos, ou investimos sem fé ou de má vontade.
A jovem que chorava sua angústia no primeiro dia do ano, resgatou a esperança horas depois. Se eu fosse um roteirista de cinema, criaria um típico final feliz à moda Hollywood. Ambos de mãos dadas a transformar 2017 em um rio de águas calmas e cristalinas.
Superei o ano péssimo, ao injetar esperança nos projetos frustrados, que não foram poucos e os reescrevendo em seguida. Venho de muitas tormentas e estou bem, sem rancores ou desânimo. E sugiro aos meus estimados leitores que me acompanhem nos próximos 12 meses. Toda fantasia, todo sonho, pode ser realidade se os atores capricharem em seus papéis, surpreendendo quem os observa, com improvisos criativos a valorizar o roteiro original. Façam isso e depois me contem. Pode virar uma boa história nesse espaço.

