Eles se conheceram em uma sexta-feira – a música ao vivo não lhes permitia conversar – partiram para abraços e beijos. Não rolou muito mais do que isso. Primeiro encontro, sabe como é. Marcaram para sábado à tarde, no centro de Capão da Canoa, uma nova oportunidade de se conhecerem melhor. Ele topou! Viera ao litoral com amigos, mas dispensaria a turma para ficarem juntos. “Faz bem”, disse ela, investindo em seu melhor olhar de menina má. Mas o sujeito que parecia passageiro da nave dos beijoqueiros felizes, sumiu no dia seguinte, passageiro de uma vã qualquer de turismo. Nem tchau, ou whatsapp deixou.
Sábado os bares do litoral lotam. Os casados, naquele tédio saudosista, pedem canções antigas, que lembram “a primeira vez…” Solteiros buscam alguém para ficar uma primeira vez. A turma madura sem parceria, já não romantiza tanto. Quer apenas dar uma escapadinha da solidão, dos filhos, genros, noras e, mesmo que por algumas horas, dos netos. Nada de carteado, nada de listas de supermercado.
Uma fugida no bar com música ao vivo é um atestado de que estão prontos para o que der e vier. Mas ao final das noites, a grande maioria retorna igual ao casal que abre essa crônica, solitários e com medo do que pode acontecer no dia seguinte. Um amigo, colega jornalista já aposentado, passou o final de semana em Capão Novo. Assistia a Bull Frog Blues Band, no Bar do Gringo, quando lá, por volta da meia-noite, percebeu que estava sendo paquerado, discretamente.
É claro que acabou em bate-papo no intervalo das músicas e um convite para uma caipirinha à beira-mar no dia seguinte. Animadíssimo, passeou por toda orla e não localizou a moça. Aliás, se cruzaram acidentalmente no supermercado, ao final da tarde. Encabulou, pediu desculpas e seguiu sem jeito, argumentando que estava “velha para certas coisas”.
O dia seguinte é o da reflexão. Especialmente entre o pessoal que passou dos 40. É medo de iniciar uma relação, é medo de saber o que virá. Outra amiga, gerente de uma cafeteria, em Porto Alegre, me garante que antigamente, no litoral as pessoas se permitiam aventuras.
Hoje a coisa anda muito perigosa. “Não falo de ameaças de doenças, mas de comportamento mesmo”, explica, ao relatar que agendou mais de quatro encontros, tudo via whatsapp e os caras simplesmente deram cano. Sumiram!”
Em nenhuma dessas histórias se cogitava um grande amor. Era gente aproveitando um final de semana para rir com os amigos e quem sabe, se surgisse uma oportunidade, no embalo de uma boa música, brincar de sedução. Muitos temem que tudo acabe em um jogo de final inesperado. E cá entre nós, esse risco é a parte boa.
O perigo – desde escorregar em uma casca de banana a se apaixonar por um babaca – existirá sempre, mas se deixar levar pelo medo, pela insegurança ao não cumprir um trato, especialmente uma singela combinação de boteco, é feio. Não curtiu? Bateu medinho? Pede licença e vá ser desconfiado em outra mesa. Vamos parar de empatar a diversão alheia, porque o veraneio acaba logo. Por favor!

