Terceirizar a responsabilidade quando ocorrem coisas erradas é uma reação inata do ser humano. Em todos os lugares – em casa, no trabalho, na convivência social em geral – parece existir um dispositivo que automatiza nossa reação. “Não fui eu! Não é culpa minha! Foi ele…”. Em seguida, citamos um nome ou um motivo sempre alheio a nossa vontade.
Na educação dos filhos não é diferente.
Diz-se comumente que hoje os jovens não possuem valores, não cultuam a família, emprestam pouco valor aos sentimentos em detrimento das coisas materiais. Inclua-se nisso, ainda, a culpa que impingimos à escola – e por extensão os professores -, afinal “estou pagando para que eduquem meus filhos!”.
A terceirização da responsabilidade nos cega. Nos impede de ver que nossos filhos reproduzem o que ensinamos a eles. E aquilo que presenciaram dentro de casa. Mas paradoxalmente existem inúmeros episódios de pessoas criadas em lugares hostis, violentos e sem aparentes condições de vida digna. Isso, no entanto, não impediu de serem educados, respeitadores, agradecidos a tudo que recebem e sempre disponíveis a aprender com humildade.
Seria tolo não admitir que as “tentações” da modernidade se multiplicaram assustadoramente. Entram em nossas casas, se imiscuem na escola, contaminam o cotidiano e empurram jovens sem rumo para todo o tipo de vício e falhas de comportamento. Nosso distanciamento, aguçado por uma pitada generosa de irresponsabilidade e omissão, gera cidadãos do grupo que costumo chamar de “eu futebol clube”.
Por que corremos tanto?
Por que consumimos tanto?
Seria mais racional usufruir com calma e parcimônia
São os que estacionam entre duas vagas sem preocupação com o outro motorista. Ou largam o carrinho do supermercado em qualquer lugar. Ignoram filas, organização e o bom senso. Ao resolverem seus próprios problemas, fazem vistas grossas para as consequências que prejudicam a vizinhança. Riem dos protestos. Debocham de quem segue as regras. Invocam direitos numa postura “nem aí” para o caos que provocam à volta.
Recentemente recebi um vídeo fantástico de uma amiga terapeuta. Trata-se da palestra do educador e filósofo Mário Sérgio Cortella, proferida durante o seminário Família, Escola e Cidadania: Quais os Caminhos? Foi durante evento para pais e professores. O conteúdo – longo (28 minutos) -, vale cada segundo.
Fala, entre outras coisas, da necessidade obsessiva (e incompreensível) que temos de ganhar tempo (para que?) e do consumismo desenfreado que nos assemelha aos animais. Destaca com fina ironia e ferino bom humor a perda de nossos valores. Aqueles valores que cobramos dos filhos e jovens em geral. É, enfim, o retrato perfeito do mundo atual que nos choca porque a atitude mecânica de agir sem pensar nos impede de ver através do caos.
Vale a pena conferir. Confira aqui.