Foi recolhida em oração que encontramos irmã Eda, que desde 1999 saiu de Arroio do Meio para residir no Lar Divina Providência, em Santa Clara do Sul. O mesmo semblante, a mesma serenidade e humildade que sempre a acompa-nharam durante seu trabalho mis¬sionário em Arroio do Meio. Feliz com nossa visita e expressando uma alegria pueril, pôs-se a contar algumas passagens de sua vida (muitas vezes interrompida por lapsos de memória característicos da idade)
A primeira delas foi sobre uma pergunta que padre Miguel Wagner (que já teve passagem por Ar¬roio do Meio e que hoje também reside no lar), lhe fez. Ele queria saber: “Afinal, irmã, o que é preciso para viver tanto?”
Sempre muito espirituosa, a irmã respondeu-lhe: “Pergunte ao Nosso Senhor!”
Em outra ocasião, frei Albano Bohn, que atualmente trabalha em Progresso, fazendo referência aos trabalhos de restauração de imagens sacras desenvolvidos por Eda durante anos, pediu-lhe que ela também “arrumasse seus dedos”, que têm pequenas deformações. Diante do pedido, a irmã conta que riu muito, pois achou muita graça da solicitação.
Ela contou-nos que, assim como fazia ainda quando estava em Arroio do Meio, ocupa a maior parte do tempo com suas orações: “Rezo pelas vocações, para quem precisa, muita gente não sabe mais rezar, não quer mais rezar. Eles acham que não têm mais tempo para Deus.”
Dos quase 48 anos em Arroio do Meio ( chegou em 1951, quando o padre era Jacob Seger), lembra com saudade da sua alegria por ornamentar o altar da Igreja Matriz. E como naquela época não existiam floriculturas, conta que passava nas casas das famílias que tinham jardins pedindo flores para enfeitar a igreja.
Depois que saiu do Colégio São Miguel, onde passou a maior parte do tempo, ficou alguns poucos anos no Seminário Sagrado Coração de Jesus. Com orgulho, lembra que Canísio Klaus (hoje bispo de nossa diocese) foi seu aluno. À época, o padre Gentil Delazeri era o reitor. A irmã lembra ainda que os seminaristas, que naquele tempos eram muitos, tinham nela uma espécie de confidente. Rindo, ela conta que uma vez alguns a procuraram para contar que à noite um colega pulava a janela do dormitório e ia passear na praça. Como era seu dever, revelou o ocorrido ao reitor, que no dia seguinte mandou o seminarista para casa.
Ainda de sua permanência no seminário, entre 1968 e 1973, lembra de um episódio que a marcou profundamente: às vés¬peras do grupo sair em férias, alguns seminaristas a procuraram pedindo que intercedesse por dois colegas, que estavam brigados. “Como vocês vão sair em férias se não se falam. É preciso fazer as pazes. Deem-se as mãos e sejam amigos.”, foi o conselho dado aos dois jovens.
A gaitinha de boca
Imgard ainda era uma menina, quando foi presenteada pelos pais com uma gaitinha de boca, que se tornou sua companheira por décadas. Quando completou 90, ganhou esta que toca hoje e que foi trazida por um sobrinho-neto dos Estados Unidos.
E como forma de expressar seu contentamento por nossa visita, ela nos disse: “Eu toco em ação de graças pelas bênçãos que ganhei na vida. Por isso vou tocar uma das músicas que mais gosto:
“Deus eterno, a Vós louvor, Glória à vossa majestade, Anjos e homens com ardor, Vos adoram, Deus Trindade: Santo, Santo, Santo é Deus, glória a Vós nos altos céus (…)”
A melodia invadiu a sala onde estávamos, emocionando a todos e principalmente a ela, cujas lágrimais uma vez rolaram pela face. Tocando como no tempo de menina, com fôlego, devoção e alegria, contou-nos que a música era presença constante na casa da família Schwarz, em Joinville: “O Kurt tocava violino, a Iris o harmônio que nosso pai ti¬nha comprado e eu os acompanhava com minha gaitinha de boca.”
No Lar da Divina Providência, irmã Eda tem a companhia constante das demais irmãs (27 no total), sendo que as irmãs Irinete e Tarcísia são as que ficam mais tempo junto dela. Irinete contou-nos que a irmã tem boa saúde, apesar da idade. Suas maiores dificuldades, próprias da idade, são o comprometimento quase total da visão e parcial da audição. Caminha pelos corredores do lar sempre amparada pelo braço de alguma irmã ou de uma enfermeira, recusando-se a usar bengala. E faz uso de um único remédio: para memória.
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