A Semana da Pátria era algo retumbante no meu tempo de guria. Mais que Páscoa, mais que Carnaval. Só o Natal ganhava da Semana da Pátria. Carnaval caía nas férias e pouco do feriado se podia aproveitar, já a Páscoa era legal, rendia dois ou três dias de folga, mas era um período triste, não dava para cantar nem brincar muito. A educação mandava combinar o ânimo com os eventos da história bíblica.
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O bom da Semana da Pátria é que durava mais que um mês. Assim: depois das férias de inverno, logo no início de agosto, começavam os ensaios da banda do colégio. Todas as tardes, os guris se reuniam para tocar tambor. As gurias – que não faziam parte da banda, porque essa honra não era para o bico delas – as gurias ficavam rondando os tamboreiros e admirando a habilidade deles.
Com boa frequência as aulas eram interrompidas para ensaios de grupos ou da escola inteira. Todo mundo se preparava para o desfile do 7 de Setembro. E dá-lhe batida de tambor, fosse para os treinos lá da banda, fosse para ensaios de marcha para os estudantes. Mesmo que a gente estivesse em plena aula, o tum-tum-tum da banda soava como um consolo na monotonia. Era sinal que havia vida, para além do aborrecimento silencioso da escola, que a gente a custo suportava.
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Não sei bem por que, mas era difícil marchar de passo certo. Vira e mexe alguém saía do ritmo e lá vinha o professor para ajudar. Era um vexame. O infeliz saía da fila e tinha de acertar o passo com o professor: um-dois-um-dois – ele repetia, batendo o pé esquerdo com mais força, as orelhas vermelhas de vergonha.
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No dia 7, depois de mais de um mês de ensaios, o desfile acontecia. A gente vestia o uniforme de gala. Sim, naquele tempo tínhamos um uniforme diário e um de gala, este, reservado para as grandes ocasiões. O simples fato de sair de casa envergando o uniforme de gala já representava uma emoção. Íamos até o colégio e, na hora combinada, saíamos marchando pela rua. O desfile não tinha fru-fru nenhum. Consistia na marcha de todos os alunos, com os professores caminhando ao lado para garantir a ordem, mais a apresentação da banda. Era só isto e ainda assim muita, muita gente parava na calçada para ver e aplaudir. No fim de tudo o hino nacional era entoado e pronto. Pronto. A pátria estava devidamente homenageada. Nós voltávamos para casa com o sentimento da missão cumprida. Voltávamos cheios de entusiasmo juvenil e de calor que os primeiros tons da primavera já começavam a espalhar à nossa volta.