O mundo mudou muito nos últimos anos. Aquele chão que pisamos na infância praticamente sumiu. Quer ver?
A gente tinha muita fé no Brasil. Levava para o lado do sério a frase de Olavo Bilac: “Criança, não verás país nenhum como este!” O futuro de glórias estava à espera – continental como o território que ia do Oiapoque ao Chuí. Enquanto isso, o dia a dia se arrastava sem sobressaltos, fora as enchentes e os pecadilhos que o padre perdoava na igreja. Ninguém vigiava o preço do dólar. Ninguém precisava atender telefone.
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Noites do alto verão eram feitas para curtir na frente de casa, pegar uma fresca e cavaquear com vizinhos. Hoje o pessoal anda gamado em novela e sufoca fora do ar condicionado. Sem falar que tem medo de assalto e mal conhece os vizinhos.
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Quem ainda se entrega à doçura do mate? Mate com direito a canela e folhinhas cheirosas por cima da erva? Mate acompanhado de rapadurinhas de leite, balas de funcho ou calça-virada… O pavor dos quilos a mais não entrava nas amarguras antigas.
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Quem ainda vai no instituto? Hoje em dia se vai no salão e sempre com hora marcada, para chegar e sair o mais ligeiro que der. Uma vez, ir no instituto era um programa. Programa para toda uma tarde. Era chegar lá, sentar, contar quantas mulheres estavam na fila e, docemente, esperar. Aliás, o melhor de tudo era exatamente esperar. Passar toda uma tarde em paz, sem fazer nada, só aguardando a vez de ficar mais bonita. Enquanto isso, cabia encetar a diligente tarefa de “aggiornamento” (ou atualização). Ou seja, num admirável esforço de equi¬pe, todas as presentes contribuíam – na medida dos próprios talentos – para informar as companheiras das ocorrências na aldeia, bem como para juntar os palpites, criar explicações, imaginar desdobramentos, cogitar soluções…
Enfim, desfiava-se um exaustivo trabalho do espírito, a par dos cuidados com a própria beleza. E quase sempre era possível deixar o instituto com uma boa sensacão. Afinal, as desgraças piores batiam na casa dos outros, principalmente por que eles não sabiam fazer boas escolhas. Sim, porque a conclusão mais frequente de toda a conversa era: “Ah, se fosse comigo… Ah, se fosse eu…”
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Bons tempos, bons tempos…